Sejam bem-vindos ao episódio 278 do Mangá², o podcast semanal de mangás mais escolhido de todos

Neste programa, Judeu Ateu, Estranho e Izzo (Dentro da Chaminé) fazem um quadro clássico, do tipo no qual a gente pensa num conceito e aí fica batendo papo sobre ele. Dessa vez é a ideia da constante presença de predestinação em mangás battle-shounen…. por que tem tanto disso? É ruim? É bom? Um monte de conversa sobre semântica, abstrações genéricas e cagação de regra, um episódio clássico de fato.
Contato: contato@aoquadra.do
Cronologia do episódio
(00:20) Títulos e Capas de Capítulos
(42:40) Leitura de e-mails
(54:00) Recomendação da Semana – Hokusai
Primeira vez que comento aqui meu deus kkkk, opa, tudo bom? Só vim aqui falar de Fairy Tail e nunca pensei que esse fosse meu primeiro comentário kkkk
O Natsu é irmão do Zeref, o maior vilão do mangá. Mas ele é e não é predestinado, ele morreu quando quando criança com os pais, por conta de ataques de dragões e por conta disso, o Zeref que era um prodígio, buscou magias proibidas para reviver o irmão. Que acarretou dele ser amaldiçoado com a imortalidade por um dos deuses lá do mundo, o Ankhseram. Que era a maldição de rejeição a vida, quanto mais alguém amasse a vida mais ela era tirada. Porque ele tentou ir contra o tabu. E de certa forma conseguiu sim, Natsu era pra ser o rei demônio da porra toda, ele estava destinado a ser o destruidor de tudo, mas né, graças ao poder supremo de FT, vulgo amizade, eles conseguem reescrever essa parte de seu livro de demônio. Então anulam essa predestinação dele.
Lógico que há a outra predestinação, onde Zeref junto dos, dragões bonzinhos mandam os Dragon Slayer para X anos nos futuro, pra assim poderem treinar e derrotarem o Acnologia porque eles iriam residir dentro das crianças para evitar a dragoficção e não ter mais novos humanos virando dragão como foi no caso do Acnologia. Com isso no final todos lutam contra ele e dão o poder pro Natsu que o derrota e recebe um “Então você é o rei dragão” do Acnologia, que é muito MERDA isso, pq o cara cagava pra tudo e no final solta isso kkkkk.
Mas ao mesmo tempo, mesmo isso sendo merda pra krl, odeio o arco final de Fairy Tail… Era mais um plano de contingência que a própria predestinação bíblica, o Natsu, é mais a causa de toda a merda que foi o Zeref durante séculos que de fato o herói predestinado. Ao contrário do outro mangá dele, Rave Master, onde o Haru Glory é o cara, e isso é estabelecido no primeiro cap/volume do mangá. Mas ao mesmo tempo, ser Rave Master não é algo obrigatório dele, se ele morresse, a Rave escolheria ele.
Ah, se vocês não leram RM, recomendo fortemente porque tu ler e fica “porra, esse é o mesmo cara que escreveu aquele desastre chamado Fairy Tail?” pode ser minha memória sendo enganada? Pode ser kkkkk
Desculpem o texto e ele ser sobre FT… Gosto muito do podcast de vocês, vocês são do caralho, parabéns!
Depois que termina a saga do Sensui e revela aquele antepassado demônio do Yusuke foi gratuito demais (e eu sou meio burro que achei que era o pai do yusuke de verdade mas o Yusuke é descendente desse demônio). Eu também pensei que nada assim pode acontecer em HxH mas o Togashi pode dar uma zoada com o Don Freecss que ta no Dark Continent quando HxH voltar em 2028.
“o Avatar é Jesus… mas ele é Jesus que não é contado na Bíblia”
É porque ele é buda lol
Mas sabe uma franquia que fez bem isso de ser o “escolhido”?
Sim, yugioh
O primeiro YGO é uma alma penada refazendo o caminho da vida guiado pelos literais deuses para recobrar a identidade, todo personagem tem um “destino” e uma função num plano maior mas o ponto da história é como cada um decide lidar com ele (eu mesmo tinha comentado que na verdade duel monsters é sobre religião). Acho que ajuda também como o Faraó ser o escolhido mas o parceiro dele ainda ser um cara completamente normal.
Em GX é um poder imenso adquirido numa vida passada que vem num protagonista que claramente não queria aquela responsabilidade porque transformou o jogo que ele gostava em algo que tem consequências terríveis para os outros, e acaba virando um arco desenvolvimento pro personagem o jeito de lidar com esse poder. É uma revelação lá pra mais de cem episódios (com leves indícios aos longo da série) do anime mas funciona tão bem porque afeta totalmente a personalidade dele.
Eu ainda tô vendo o 5Ds mas também é algo pelo visto pensado de início. Eu acho uma troupe válida, mas o quem escreve tem que ter uma visão de como encaixar aquilo na história, em termos de tema e impacto no personagem.
Vocês falaram sobre tipos diferentes de fazer essa coisa de O Predestinado e em boku no hero tem uma brincadeira com isso com o Bakugou, porque parte da jornada dele meio que é perceber que ele não é o escolhido, e sim o midoriya, que ele não é tão especial assim.(dá até para tirar uma pequenininha questão de classe que dá para tirar disso porque no mangá amostra que a casa do bakugou é beeeem maior que o apartamento que o midoriya mora)
Acho que muito do motivo de ter tantas histórias com protagonismo em linhagem sanguínea é que resolve dois problemas de uma tacada só: tanto explica porque essa pessoa é a escolhida quanto explica porque essa pessoa tá numa situação fragilizada identificável no começo da história. O Harry Potter, o Naruto, o Percy Jackson, o Ichigo, a Lyra de His Dark Materials, são crianças que têm um ou dois pais faltando, e isso é parte do que faz o drama deles, e em algum momento você descobre que essas pessoas são importantes e especiais, e é em parte por isso que eles também são. É muito limpinho.
Sobre o assunto em geral, acho que eu tenho uma certa tolerância com profecia e predestinação, mas é uma coisa bem de caso a caso. Não tenho extensos problemas com histórias onde existem uma predestinação logo de cara, dá espaço pra qualquer autor competente complicar isso um pouco (Avatar, Akatsuki no Yona, Basara), o que acho realmente frustrante é quando tentam colocar predestinação em gente que no começo da obra é vendida como não tão predestinada assim. O Ichigo é um humano que vira shinigami substituto por acaso, e depois é revelado que ele sempre foi a existência mais importante do mundo. O Tanjiro é um moleque órfão em busca de vingança que por acaso é o único herdeiro da técnica mais foda do mundo. O Luffy é um dos milhares de piratas motivados pelo discurso do Roger, mas o Roger com chapéu de palha e o chapéu de palha tão dando a entender que ele foi mais predestinado do que isso. É muito frustrante, mata o senso de uma certa relatability que o começo da obra foi feita pra construir.
Olá! Bom programa. É um daqueles que eu discordei demais de vocês, mas, ainda assim, consegui aproveitar bastante. Enfim, passei aqui pra falar que, veja, Harry Potter (os livros, ao menos) tem uma forma de profecia bem curiosa. O que acontece é que, no quinto livro, há aquela profecia dizendo do Harry e o Voldemort, mas ela é circunstancial. O que quero dizer com isso? Bem, as profecias no mundo de Harry Potter podem acontecer ou não. São profecias que dizem sobre um futuro possível, mas não o futuro certo. No caso da profecia do Harry, tanto ela podia acontecer ou não, como ela também tinha a possibilidade de acontecer com outra pessoa. A profecia dizia de um menino que nasceu num mês x. Havia dois meninos na situação, o Harry ou o Neville. O que fez a profecia se concretizar foi o Voldemort ter dado atenção pra ela. E o que fez o Harry ser o escolhido foi o Voldemort ter escolhido ele para tentar matar primeiro. Então, no fim, o Harry se torna um predestinado pelo acaso. E, tipo, eu acho que a obra é boa ao retratar o como a profecia é, na verdade, um peso pro Harry. E um peso que só não precisava ser dele. Acho que funciona bem!
Quanto às coisas que eu discordei de vocês: Não quero falar de todas, mas, no caso de Naruto, sim. Vamo lá: Eu realmente acho que as pessoas que pensam que o Rock Lee seria um protagonista melhor só não entenderam a obra. Tipo, não entenderam o que a obra quer dizer e como o Naruto é essencial pra isso. Entendo que o personagem tem seu carisma e muitos se identificam com eles, mas, né… até aí eu posso virar e falar que eu preferiria que a Sachi fosse a protagonista de Punpun por eu me identificar mais com ela, e nesse caso, eu estaria errado.
Ademais, também discordo quando vocês falam que, quando a obra faz o Naruto ter sido o grande predestinado naquele final, ela acaba perdendo força narrativa. Digo, concordo que perde força narrativa naquele trecho final, mas discordo que isso afete todo o resto da obra. A gente vê o Naruto se esforçando 90% do mangá. Mas vocês tratam como se o esforço que ele teve fosse inútil. Que ele já seria habilidoso, querendo ou não. No caso, há um tom profético, mas isso não faz o personagem um mimado que não precisa fazer nada pra conquistar as coisas. A própria luta do Pain houve um esforço. E cito essa luta pois vocês a citaram como algo que o Naruto resolve sem treinamento. Mas o Naruto treina pra caralho! E, no fim, depois de ter tido as cenas com a nove caldas, ele volta pra luta mano a mano, localiza o Pain com a própria habilidade só pra ir até ele e ganhar com o papinho. E o papinho, aqui, tbm é algo importante pra mensagem final do mangá, pois é ele (as ideias e convicções do personagem, no caso) que vai quebrar o ciclo de ódio, que vai destruir o tom profético da coisa. (Explico melhor embaixo.)
Também discordo quando vocês falam do final, que o Naruto ser o descendente de um dos dois grandes seres é ruim. Tipo, é tosco? É. Tem haver com o tema? Tem, porra. Toda a história que a gente viu até agora é sobre ciclo de ódio. Toda a relação desses dois grandes seres é o como os dois se odeiam. O Naruto, como descendentes deles, como um predestinado a perpetuar o ciclo de ódio, acaba por fechar o ciclo e destrói o tom profético. Não acho a coisa mais bem conduzida e explicada do mundo, também acho uma conveniência narrativa isso existir, mas, porra, o tema tá ali, o autor não se desviou dele, só o enfatizou (de um jeito tosco, mas enfatizou).
Bem, é isso, eu acho. Ouvi o podcast tem uns dias, então desculpa se me confundi com algo ou coisa assim. Um beijo pra vcs!
Do meu ponto de vista o clichê do escolhido só se torna um problema quando um dos temas da obra é ir contra ou provar que destino não importa/não existe, e ai no final (ou perto do final) tem a revelação de que o personagem era o escolhido o tempo todo, seja por uma profecia ou por algum conceito superior. (coff coff Naruto)
Fora isso não me incomoda muito esse clichê. Ainda mais se a existência do destino é um dos temas da obra de algum modo. Apesar de muitas vezes ser o clichê pelo clichê, dá sim para explorar de formas interessantes essa trope.