Semicírculo – Nanamine

Depois do sucesso de Death Note, Tsugumi Ohba e Takeshi Obata retomam a parceria com outra mangá de expressivo sucesso: Bakuman. A ideia base da obra é bastante original e razoavelmente fora do padrão de mangás da Shonen Jump. Com 20 volumes de duração, o mangá mostrou altos e baixos em sua qualidade, sendo esta fase em questão uma das piores de todas.

Analisarei o arco de aparição do personagem Nanamine, o “maior vilão de Bakuman”, que vai do capítulo 115 até o 127. Não levarei em consideração a volta dele capítulos depois, já que não apresenta nenhuma conclusão para o arco do personagem ou alguma informação relevante para esta análise.

Rivalidade

A primeira coisa que vemos de Nanamine é sua obra, o one shot Classe da Verdade. Os protagonistas estavam procurando seu próprio estilo para a próxima obra que fariam, sendo surpreendidos ao ver um ótimo caminho naquele one shot denso e cheio de batalhas psicológicas de um novato que é um fã antigo da dupla. Basicamente, o novato os fazia notar que a inspiração que eles precisavam para a nova série estava em seu próprio cerne desde sempre.

Nanamine, que parecia um garoto inocente e motivado, se revela uma pessoa fria, calculista e, principalmente, maligna. Um ódio entre a dupla Ashirogi Muto e o vilão é criado rapidamente, já na primeira conversa entre eles. Sem uma construção prévia, a rivalidade parece superficial, nos obrigando a odiar Nanamine por seu método atípico e torcer pelos protagonistas simplesmente porque eles discordam de como outro autor produz seu trabalho.

O método de Nanamine é usar anônimos da internet para apresentar ideias que ele usará em suas obras. Em uma primeira olhada, é um método interessante, ainda que discutível. Mas os heróis da história ficam extremamente ofendidos com o método e se dispõem a levarem a obra do rival ao cancelamento.

Contudo, os protagonistas não soam intransigentes ao julgar e execrar o processo criativo alheio, pois o autor faz um Nanamine absolutamente desagradável e odioso, um inimigo caricatural que mata qualquer possibilidade de relativizar as ideias ali presentes. Embora seja apenas impulsiva, não podemos culpá-los pela rivalidade feroz e abrupta, pois Nanamine é o personagem mais irritante e exagerado já desenhado nas páginas deste mangá.

Nanamine

Com seu jeito manipulador e dissimulado, Nanamine surge como um Aizen no mundo de Bakuman. Esta simples semelhança já mostra o grande problema da existência de Nanamine. O universo dos autores e editores da Jump é mostrado no mangá de maneira verossímil, ainda que muito romanceado, portanto inserir um vilão desses de maneira tão repentina é, no mínimo, uma péssima ideia.

Sua inveja é o que move toda sua investida no mundo dos mangás, algo interessante no personagem. Como todo sonho, sua vontade de ser autor começou por inveja de outros autores, ao descobrir que meninos jovens como ele conseguiram publicar em uma revista. Depois, a inveja deixou de ser um combustível e criou uma obsessão pelos seus ídolos, levando-o às últimas consequências para superá-los.

Seus métodos também poderiam ser vistos como inovadores, mas geram muitos problemas pelo modo como mangás são produzidos e publicados. Além disso, existem certos detalhes que tornam o sistema visivelmente destrutivo, algo que o frio e calculista Nanamine não notou. Trabalhando com desconhecidos e expulsando-os de maneira agressiva, o segredo obviamente ia vazar rapidamente, além de não haver como pagá-los pelos serviços, gerando mais insatisfação contra o líder que levava todo o crédito.

Mas mesmo que alguns personagens digam que falta profissionalismo em Nanamine, conseguir, mesmo que temporariamente, administrar o caos da internet e passar as ideias para o papel é uma qualidade, o problema está em não conseguir unir tudo em um roteiro consistente, algo muito parecido com o que acontece na construção do próprio personagem.

Acreditando que apenas características ruins criam um bom antagonista, Ohba enche o personagem de defeitos, sem se importar em manter uma coerência ou uma humanidade no garoto. Assim, ele se mostra extremamente vaidoso e arrogante, mas não se importa de dividir sua criação com 50 pessoas. Em outro momento, ele diz que os leitores não entendem de mangá e não sabem julgar seu trabalho, sendo que baseia suas vitórias e derrotas nos rankings de avaliação dos mesmos leitores.

Outro personagem que surge neste arco é Kosugi, o incauto editor de Nanamine. Inocente e entediante, ele se torna uma vítima do vilão, tendo seu momento de revanche no fim. Ele tenta fazer o certo e o básico, mas é confrontado pela subversão do autor que quer ser livre do editor. Esta discussão pauta todo o arco, relevando o possível motivo para a caracterização exagerada do vilão.

Discussão

Por sua natureza metalinguística, Bakuman está propenso a várias análises sobre a criação de mangás e o método editorial da Shone Jump. É interessante notar, por exemplo, que os editores dizem que Classe da Verdade não poderia ser publicado na Jump por seu conteúdo muito sombrio, mas a obra é apresentada com muitos detalhes em um capítulo de Bakuman publicado na Jump do nosso mundo, algo que poderia ser interpretado como uma alfinetada na revista.

Porém, a discussão do arco se mostra confusa e muito tendenciosa. No começo, temos a impressão que será um conflito entre fazer mangás com a supervisão do editor ou com o autor no comando. Nanamine inclusive posta seu mangá na internet, fazendo muito sucesso ao ser autossuficiente. Isso poderia gerar um ótimo debate sobre autoralidade, controle editorial sobre a arte e outros temas relevantes. Mas Bakuman prefere seguir pelo lado mais chapa branca e mostrar como cruel o lado do autor rebelde que quer ter controle sobre sua obra.

Além de seu caráter corrompido, Nanamine perde o ponto do argumento ao usar cinquenta editores invés de um e, por ser tão detestável, não há validade em suas ideias, mesmo que estas pudessem ser muito frutíferas. Podendo atacar o populismo da Jump, sendo o artista contra a empresa que trata arte simplesmente como produto, Nanamine se mostra igualmente inclinado a tratar sua arte como produto, criando uma batalha contra seus rivais que deixa de ser sobre mangás e passa a ser sobre popularidade.

E mesmo que tudo seja decidido no voto dos leitores, o mangá consegue ser cínico a ponto de tratar aquilo como uma disputa de autores usando a arte, mostrando seus protagonistas defenderem a “alma” dos mangás contra o autor que é guiado por outros e não deixa sua marca. Estes mesmos protagonistas checam o ranking de popularidade da Jump e tentam mudar seu trabalho de acordo com tais números, mostrando que são igualmente guiados por outros.

As ideias e discussões não se sustentam por não nos apresentarem pontos de vistas minimamente equilibrados. Bakuman tenta passar a mensagem de que o método padrão é o correto, mas esquece de dar bases aceitáveis para o ponto de vista oposto. E pior, ao passar esta ideia, ignora a qualidade da narrativa, inserindo personagens desinteressantes e, como em fillers, relevantes apenas dentro do arco. Tudo para mostrar ao leitor o mérito de manter-se no convencional, onde, para eles, reside a alma do mangá.

Portanto, já que os autores se esforçaram tanto para mostrar a importância da supervisão dos editores, irei ser metalinguístico como Bakuman e deixar uma nota do editor deste post aqui: [[Esse final está abrupto demais, sugiro uma ponte melhor entro o parágrafo anterior e este.]]

5 comentários

  1. sera que só eu gosto do nanamine?
    pra min nanamine foi fundamental pra historia ,ao trazer algo que não existia em bakuman ate aquele momento “o lado podre das editoras” ,pois nós sabemos que tem muito mangá que sofre por causa de decisões editoriais baseadas apenas no dinheiro,e alem do mais não é em toda a empresa que todos são amiguinhos e se dão bem,sempre vai ter um filho da puta querendo te passar a perna

    concluindo o nanamini é um personagem necessário que tem sua função pra historia,um personagem feito pra ser detestável para os leitores e que serve pra mostrar que nem tudo são flores

    mas concordo que o retorno dele é totalmente desnecessário

    • Não entendi bem a tal representação que tu gostou, ou simplesmente não vi no mangá. O autor não mostra o lado podre da editora, na verdade é o oposto, ele mostra a editora como um pilar imprescindível para a obra, mas de uma maneira muito maniqueísta. O Nanamine é forçadamente detestável para vermos a editora e os protagonistas como grandes heróis.

      • sim ,mas querendo ou não o nanamine esta la como contra ponto a editora ,mas é obvio que no fim a editora é retratada como boazinha no final e nanamine como o errado ,afinal a jump não ia permitir fazer tal coisa em bakuman

        pra min no começo era um negocio bobo,tipo todos os editores são amiguinhos e querem o melhor para os mangakas,mas a realidade é diferente ,o trabalho do editor é fazer a porra do mangá vender mersmo que pra isso ele tenha que fuder a historia toda,e no fim os mangakas em sua maioria são descartaveis,só olhar a quantidade de autores que passaram pela jump e cairam num limbo,não é todo autor que vira um echiro oda

  2. O arco do Nanamine é horrível mesmo, mas o que eu mais odeio é o daquele moleque que tinha um cachorro e que a família não gostava da ideia de ter um filho mangaka. Aquele tipo de personagem é muito mais odiável pra mim do que o Nanamine, onde o objetivo do autor (como o texto diz) é justamente fazê-lo detestável. Pelo menos no anime é assim, não li o mangá.

    • no mangá esse moleque do cachorro tambem é um porre,alem do que não serve pra nada na historia

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.