Volume único, por Riyoko Ikeda.
É de conhecimento público que sou praticamente um leigo quando o assunto é a demografia shoujo (resumidamente, mangás para meninas); por questão de gostos pessoais e prioridades, é bem difícil eu iniciar uma leitura de uma obra shoujo espontaneamente. E admito isso sem qualquer orgulho, uma vez que, na minha opinião, para ser um melhor apreciador de uma mídia, eu deveria estar exposto às várias facetas da mesma. Portanto, não é incomum eu pedir e receber diversas recomendações de leitura de shoujos, e de vez em quando eu consigo encaixar essas recomendações nas minhas leituras. Este mangá é um exemplo desses casos, e me foi indicado por uma grande fã dessa autora.
A autora Riyoko Ikeda é uma das mais influentes da história do shoujo, tendo como sua obra mais famosa Versailles no Bara, ou A Rosa de Versailles, ao qual é atribuída a criação de diversos conceitos e estilos que são seguidos até hoje nos mangás dessa demografia. “Claudine…!” é sua obra de 1978, 6 anos após a sua obra mais famosa, supracitada, e foi publicada na famosa antologia Margaret, casa das outras principais obras da mesma autora.
Resumidamente, no mangá acompanhamos Claudine, única menina de uma família com 4 filhos, e que desde jovem estava convencida de que havia nascido com um corpo do gênero errado. O que vemos ao longo do único volume que compõe a obre é a sofrida e trágica busca de Claudine pelo amor verdadeiro.
É muito interessante, e levemente tragicômico, perceber como abordar a transexualidade ainda é algo cheio de tabus no nosso mundo moderno, e que foi tratado com tamanha naturalidade em 1978, em uma revista majoritariamente voltada para meninas adolescentes. A autora aborda esse tema (que aparentemente é muito recorrente em suas obras) com uma visão bastante cotidiana (embora bem dramatizado, como era típico da época) e nem um pouco alarmista ou condenativa dos dramas e situações pelos quais passam a protagonista. Ou melhor, O protagonista.
Toda a sociedade ao redor de Claudine aceita prontamente sua condição e sua peculiaridade com uma naturalidade de causar inveja nos mais modernos ativistas da liberdade sexual. Tanto pela autora quanto pelos outros personagens da história, a transexualidade jamais é tratada como um problema do protagonista, e sim como uma força motriz para o desenrolar dos dramas de sua vida, e como forma de demonstrar sua impotência diante de algumas limitações que essa característica traz.
A obra se passa em um período não especificado, mas muito possivelmente em uma França vitoriana. E, embora possivelmente não seja uma perfeita representação de qual era a visão europeia da transexualidade na época do mangá, é uma ótima representação da visão japonesa dessa condição, já na década de 70; e se não era a visão de toda a sociedade, ao menos de uma parte significativa dela, parte essa que abraçou sem preconceitos as obras da autora que abordavam esse tema.
Para o bem ou para o mal, essa visão tão curiosa sobre a transexualidade não é a única característica marcante da década de 70 que temos nesta obra. A primeira coisa que deve chamar a atenção ao leitor mais puritano é a arte da obra. É possível classificar a arte de Claudine como “clássica” ou “datado”, dependendo do seu nível de interesse por traços característicos da época, e portanto pode ser um ponto positivo ou um negativo, dependendo de como se enxerga a obra. Particularmente, acredito que a arte não evoluiu tão bem para aquilo que aceitamos mais normalmente no mundo moderno, mesmo apresentando diversas características que posteriormente viriam a se tornar clichês do gênero shoujo, como personagens esguios, quadros grandes, utilização excessiva de brilhos e flores nos fundos, etc. Embora, claro, seja fácil relevar a idade do traço, considerando-se que a obra é mais antiga que mangás como Devilman e Kinnikuman, obras com traços nem um pouco modernos.
Outra característica bem comum da época e que vemos em Claudine é a velocidade da narrativa, que é bastante corrida. Vemos passagens de tempo enormes transcorrendo em poucas páginas sem qualquer cerimônia ou preparação prévia; quando percebemos, 3, 5, 10 anos se passaram. Uma explicação plausível para isso poderia ser o fato de termos os acontecimentos do mangá narrados por um personagem de fora, um psicólogo com o qual Claudine eventualmente tem contato. Essa alienação do personagem aos detalhes minuciosos da vida do protagonista explicaria as passagens de tempo rápidas e abruptas, porém isso é apenas uma tentativa minha de buscar de um sentido nisso. Fato é que a forma narrativa também não envelheceu tão bem quanto poderia, e isso pode tornar a leitura da obra um pouco mais custosa do que seria desejável.
De qualquer forma, deixando de lado a datação da arte e da narrativa (algo que é muito difícil de ser relevado, eu sei, mas que deve ser exercitado para se apreciar obras mais antigas), considero a premissa e a abordagem do tema como os grandes pontos fortes da obra. Fortes o bastante pra me deixar curioso para ler a obra máxima (será?) da autora e ver o que ela pode fazer com um pouco mais de espaço de desenvolvimento.
Avaliação Final
Muito boa sua resenha Estranho,vou dar uma chance para esse mangá já que o tema me interessou;estava mesmo querendo ler um shoujo já que as poucas coisas do gênero que eu li não me agradaram,mangás como Fushigu Yuugi e Meru Puri.
Por outro lado sou muito fã de Josei e li obras muito boas desse gênero,como exemplo posso citar Paradise Kiss,Honey & Clover e Nana;que esses mangás também sirvam de recomendações para você.
Só reforçando mais uma vez,vou dar uma conferida em Claudine.
opa muito bom mesmo estranhow,gosto desses post de 1 volume e tambem dos comentarios que vç fala na resenha , vou guardar essa obra pra ler num dia que estiver com mais tempo, e como o amigo falou em cima ,as poucas obras que ler tbm sobre shoujo n me agradaram, espero que essa seja diferente abraços.