Seis meses depois, está de volta aquela categoria de posts do blog onde mais nos aproximamos do mundo dos animes! Nesta série de posts, falamos criticamente sobre alguns mangás que estarão virando animes na próxima leva de estreias, como forma de apresentar a obra para quem não conhece, e conversar sobre ela para quem conhece. Essas “levas” de animes ocorrem normalmente uma vez a cada estação, e a próxima delas se dará na Primavera de 2013, começando a maioria dos animes agora em Abril.
Para começar, vamos falar uma série que está sendo muito esperada por quem conhece a história, e que está despertando bastante curiosidade pela sua ausência de imagens de divulgação. Vamos começar esta temporada com Aku no Hana.
(Clique nas imagens se quiser ampliá-las)
Publicado desde 2009 na Bessatsu Shonen Magazine, um spin-off mensal da Shonen Magazine, Aku no Hana (As Flores do Mal) é escrito e desenhado por Shuzo Oshimi. Atualmente conta com 7 volumes e ainda está em publicação.
O mangá acompanha Takao Kasuga, um garoto bastante introspectivo e idealizador que vive imerso em livros; sua obra preferida é As Flores do Mal, de Charles Beaudelaire, de onde vem o título do mangá. Kasuga é apaixonado platonicamente por Nanako Saeki e, por infortúnios do destino, ele acaba roubando as roupas de ginástica da menina. Esse fato é testemunhado por Nakamura, uma jovem de óculos, sádica, violenta e totalmente excluída da sala. Ela passa então a chantagear Kasuga para ele fazer tudo o que ela quiser em troca de manter o segredo do roubo que ele cometeu.
Nas mãos de outra pessoa, essa situação toda poderia ter se transformado em uma comédia romântica, um harém ou um ecchi qualquer, com um relacionamento tsundere ou algo do tipo, porém a realidade da obra está muito longe disso. O “poder” que Nakamura tem sobre Kasuga será o início de uma espiral descendente de depressão, melancolia, depravação e descontentamento, para ambos. E isso será só o começo.
O primeiro ponto da obra que pode chamar a atenção negativamente é a ingenuidade e falta de força de vontade do protagonista, que poderia resolver facilmente muitas das situações em que será colocado, se tivesse um pouco de força de vontade e toma-se atitudes assertivas, porém sua personalidade fraca irá impedir que isso aconteça. Embora essa postura passiva do protagonista seja de fato irritante e batida, deve-se levar em conta a idade e a postura prévia que o personagem já tinha antes de todo o ocorrido. Kasuga é jovem, com personalidade ainda em formação e que, como é bastante comum com os japoneses, acaba virando uma “esponja” do mundo a sua volta, uma folha em branco que sofre muita influência do exterior, e quando é exposto a fortes opiniões, acaba aceitando-as facilmente.
Inclusive é bastante interessante o pensamento a longo prazo do autor em como certas atitudes e acontecimentos quando somos jovens acabam moldando as pessoas que nos tornamos no futuro. Observável melhor na “segunda parte” da obra, é sempre agradável ver personagens que moldam e são moldados pelo mundo.
O relacionamento entre Nakamura e Sasuga é baseado principalmente na passividade por parte dele, e na agressividade por parte dela. Nakamura vê o mundo como algo degenerado, onde todos são vermes, e por isso busca incessantemente chegar do “outro lado” (simbolicamente manifestado como o outro lado da montanha que cerca a cidade onde mora), onde estará livre dessas pessoas que a cercam. Nakamura vê na submissão de Sasuga a oportunidade de encontrar alguém que a acompanhe nessa jornada degenerativa em busca da liberdade, e Sasuga, desenvolvendo uma forte síndrome de Estocolmo, acaba se amarrando mais e mais à teia de Nakamura.
Como se não bastasse já existirem problemas nesse relacionamento complexo, ainda jogamos na mistura a jovem Saeki, que sai do esteriótipo que prevíamos (erroneamente) da menina perfeitinha japonesa para se tornar uma personagem bastante tridimensional e protagonizar uma relação bastante inusitada com os outros dois personagens principais, fazendo esse “triângulo não-amoroso” se desenvolver de uma forma que nunca vi em um mangá shonen.
Não tenha dúvida alguma que o clima do mangá é pesado desde o começo, e ele vai ficando mais e mais pesado conforme o enredo avança. O autor consegue transmitir de forma bastante efetiva a força dos sentimentos de cada um dos personagens e todo o clima que permanece no ar em decorrência desses. E embora mais adiante na obra ele se utilize de simbolismos bastante “explícitos” para descrever algumas situações, a obra é de forma geral bastante sutil nesse quesito, deixando que cada ação, atitude ou fala seja interpretada pela mente externa do leitor.
Também é digno de nota o papel que os pais dos personagens executam na obra. É bastante normal que em abordagens shonen de certos tipos de obras, os pais dos personagens sejam criaturas etéreas, totalmente alheia as tramas. No entanto, em Aku no Hana vemos claramente como os acontecimentos na vida dos personagens afeta diretamente todos ao seu redor (sejam amigos ou, nesse caso, os pais), e as reações destes, que acabam sendo muito importante para os desenvolvimentos futuros.
A arte do mangá é um daqueles caso de evolução gigantesca ao longo da obra. Embora definitivamente não possa ser chamada de feia, a arte do início do mangá é um pouco “estranha” com algumas peculiaridades que não são exatamente as melhores escolhas, como por exemplo as proporções dos corpos dos personagens. Porém, ao longo da obra, existe uma evolução enorme por parte do autor, e aquilo que era “estranho” passa a ser “característico” e ter um charme próprio, fazendo com que a arte complemente o enredo de forma muito efetiva. O mais interessante é o fato dos personagens não terem características visuais marcantes, mostrando que são apenas pessoas comuns, com quaisquer outras, e que essa história poderia ter acontecido com qualquer um; todos são apenas vítimas das circunstâncias.
Com o pouco que foi divulgado nesse período “pré-anime” (um trailer que não mostra quase nada), é difícil tirar conclusões assertivas sobre como se dará a adaptação. Ao menos conseguimos perceber que há uma preocupação em manter o mesmo clima do mangá nessa transposição para anime. Com um pouco de esforço e boa vontade, dá pra sentir que o clima de solidão e melancolia, tão presentes no mangá, é bem representado nesses poucos segundos de imagem que temos. Porém, ainda há muito pouco para ter certeza.
Minha recomendação para fãs de qualquer enredo bastante psicológico é que leiam o mangá (sempre). Mas se estiver impossibilitado de fazê-lo, ou preferir assistir animes, talvez Aku no Hana seja uma boa aposta de história para se acompanhar. O lado positivo é que o enredo do mangá acaba sendo “separado” em uma nova parte por volta do volume 6, o que torna bem possível que o anime seja auto-contido e com um final satisfatório (no fim da “primeira parte”).
Não acompanharei o anime, mas acompanherei a reação dos blogs deste meio, mais pela curiosidade da recepção da obra como um todo. De qualquer forma, na possibilidade de sair algo ruim dessa adaptação, já adianto: o mangá é melhor.
Que bom que voltou com essa ”série de posts” Estranho! Realmente Aku no Hana é muito bom, as outras obras do autor são todas meio que na mesma vibe, recomendo todas!
Sempre me falam que Aku no Hana é meu tipo de manga, e pelo falado, parece mesmo. E só de ver as imagens, o anime já parece que vai feder. Espero estar certo, adoro quando o anime fede.
Só dando um update aqui, li até os atuais, e tenho que agradecer pelo empurrão final para ler (estava muito baixo na lista de leitura). Fazia tempo que não lia algo assim e desse jeito. Ele lembra Punpun, mas de uma forma diferente e feliz.
eu ja iria ver aku no hana pela arte diferente que se salientava no chart de primavera, mas quando o estanho recomendou no fala otaku, eu decidi que veria de certo!
Daniel Pereira, Portugal
Arranje um tempinho pra ler o mangá também! Na incerteza do anime ser bom, o mangá já o é!
actualmente o meu tempo não é tanto quanto gostaria, mas a historia é promissora, e se o anime mostrar que as expectativas estavam certas obviamente lerei o manga!
Eu estava em dúvida se lia ou não, mas depois que eu li a sua análise minhas dúvidas se foram… Irei ler com certeza!
[…] descendente de depressão, melancolia, depravação e descontentamento para ambos”, como escreveu o Guilherme (Mangatologia). Além do que mais dois pontos me desestimulam a acompanhar a […]
Achei uma recomendação valida, mas só acho que o personagem acaba sendo um pouco forçado no drama dele, na maior parte do tempo ele me lembra muito principal de harém que não faz absolutamente nada, oque me deixa irritado já que só vai sendo levado sem nunca revidar.
Fora isso bom manga.
Ótima dica, matei tudo em poucas horas. Me lembrou um filme do Godard, escapismo por destruição, paixão e crime. Enfim, comentei no meu blog (http://migre.me/criar-url/), depois se tiver um tempo dê uma olhada. Valeu pela recomendação.
[…] [imagens via Vito Phaluta; sinopse via Mangatologia] […]
[…] eu já havia comentado via Twitter sobre o mangá de Aku no Hana, mas, de maneira breve, para não me estender muito, resumirei o que eu […]
assisti agora o primeiro episódio, e realmente foi completamente diferente de qualquer anime que eu ja tenha assistido, tanto graficamente como a obra em si. gostei! realmente merece ser acompanhado, daqui a pouco lerei um pouco do manga para ver se passa a mesma sensação.
Adorei o facto de os seres humanos, serem seres humanos! eles tem tiques pessoais, andam como adolescentes normais, e falam de coisas normais. não vejo disso em quase nenhuma das obras que eu tenha visto.
[…] Mangatologia […]
[…] da Shonen Megazine, casa de outras obras relativamente conhecidas como o ótimo Doubutsu no Kuni, Aku no Hana e Sankarea, onde é publicado desde a estreia da revista, em setembro de 2009. O mangá ainda está […]