Annarasumanara é uma webcomic coreana escrita e desenhada por Ha Il-Kwon (se essa onda de coisas da Coréia realmente pegar, vou ter que aprender a pronunciar nomes, sério). O manhwa foi lançado online em 2010 por 27 capítulos e, devido ao grande sucesso, posteriormente publicado em 3 volumes encadernados.
A história é centrada nessa estudiosa, introvertida e extremamente pobre menina chamada Yoon Ah-ee, a garota não possui uma mãe e foi abandonada pelo pai, portanto tem que conciliar estudo e trabalho para mesmo assim viver em péssimas condições de vida junto com a irmã menor. No meio de vários problemas que vão do bullying à sérias questões no ambiente de trabalho, Ah-ee acaba conhecendo uma lenda urbana da cidade, um homem que vive num parque temático abandonado e que se diz ser um verdadeiro mágico, um encontro que irá fazer a vida de todos os envolvidos virar de cabeça pra baixo.
Não tenho amplo conhecimento do “gênero”, mas acredito que o começo desse manhwa deva parecer um pouco genérico do shoujo-padrão. “Uma garota tímida e pobre conhece um garoto com quem se apaixona à primeira vista, os dois passam por uma dificuldade e acabam juntos no final”, imagino que as primeiras páginas possam dar uma impressão de que a história está seguindo esse rumo, mas não se engane, Annarasumanara está longe de ser genérico e padrão.
O grande tema tratado na obra é “o que é ser um adulto”, o que na verdade é bem estranho de se pensar, poucas obras tratam esse tema tão comum e persistente em nossas vidas. Não é a a mesma coisa que o “coming of “age” de Solanin, é mais a definição exata do que é ser um adulto, algo que surge em nossas cabeças quando crianças e nos é apresentado o conceito de “adulto” e que continua a evoluir até pontos onde nos perguntamos ou nos firmamos como adultos.
É algo que vi recentemente em Biscuit Hammer (e parando pra pensar, Naruto faz isso bem o Shikamaru), mas abordado de forma mais positiva e, de certa forma, mais “pronta pra entrega”. Em Annarasumanara há um real questionamento sobre o que é ser adulto, significa ter liberdade? Isso seria algo bom? É um tipo de conflito que, estranhamente, nós não submetemos com muita frequência (ou talvez isso seja só eu) e acaba sendo um fator positivo para a identificação da confusão que os personagens passam.
Esse tema geral acaba sendo muito bom para a exploração de vários outros assuntos que, agora sim, envolvem o “coming of age” e seus derivados, ou seja, o que vou ser quando crescer? O que quero da vida? O que conquistarei com liberdade financeira? Até que ponto devemos correr pelos nossos sonhos? Tudo tratado de forma bem coesa e sem parecer forçada no contexto geral(um ponto que vejo muito mangás falharem ao tentarem abordar esse tema).
Em alguns momentos os mangá até devaneia um pouco (mesmo que dentro de um contexto bem justificável) e lida com temas como “a definição da loucura”, nada muito aprofundado, a reflexão acaba acaba sendo mais direcionada para a discussão do “adulto”, mas acho interessante comentar pra tentar passar uma noção da abrangência da temática abordada.
Annarasumanara é uma obra que utiliza bastante de simbolismos, lembra um pouco Oyasumi Punpun nesse sentido, mas de uma forma mais, por assim dizer, “mainstream”. Os simbolismos em Punpun (e na maioria das obras do Asano pra falar a verdade) acabam sendo mais abstratos, eles tem um significado pensado pelo autor, mas largam a interpretação muita mais pro leitor. Na webcomic, os simbolismos acabam ficando um pouco mais claros e dão uma certa sensação de “superioridade” ao leitor por conseguir entender certinho as dicas dadas, sei lá, é uma sensação boa, uma certa prepotência, só isso.
Só um ponto um pouco mais fora da curva acaba sendo um pequeno arco de revelação da origem do Mágico (clama, não vou dar spoilers). Este, na minha opinião, foi um dos melhores momentos da obra, o autor explorou muito bem os simbolismos mais abstratos e criou uma reflexão bem interessante no leitor, enfim, fica só esse comentário solto mesmo pra evitar spoilers.
A arte do mahwa é um caso bem interessante, a impressão que tive que foi uma mistura de estilos que deu certo e acabou criando algo bem único. Parece que o autor teve uma boa influências de filmes noir, há um certo “que” de Cin City na obra, com objetos chaves serem representados em cores, enquanto todo o resto todo o resto é preto e branco. O autor explora muito colagens e montagens feitas no computador mesmo, essa página da Ah-ee correndo atrás do dinheiro foi a primeira vez durante a leitura que falei: “tá, acho que isso aqui pode se tornar bem interessante”.
A exploração do formato mais estreito das webtoons é feita de forma magnífica (é possível ver isso só pelas poucas imagens que selecionei pro post), na verdade, acho que isso algo geral da mídia, mas parece que houve uma troca muito eficiente das páginas duplas (horizontais) de impacto, por esse dinamismo de leitura vertical. Durante a obra inteira só consigo me recordar de uma ou duas páginas duplas e elas foram muito bem justificadas. No final, criou se esse estilo bem único, a impressão que fica é que parece que estou lendo uma amostra fotográfica indie moderna… é, acho que isso define bem o estilo, parece que alguém pegou uma dessas exposições de fotografias hipsters em preto-e-branco e deu um sentido para elas.
Mais especificamente sobre o character design, ele acaba ficando no padrão seguro dos Webtoons, é um estilo que puxa bastante do hermafroditismo do shoujo, mas com um certo ar “shounensco” na encorporação. A boa-exceção fica por conta do magnífico personagem Il-Deung, que, apesar de ser considerado muito bonito pelos personagens da obra, é representado com a cabeça alongada (ironicamente parecido com Punpun), é uma simbologia interessante, que é explicada mais pra frente na obra.
Um ponto muito bem explorado no mangá é à respeito dos poderes do mágico serem reais ou não. Diversas vezes o mangá nos dá comprovações de que a magia usada pelo homem misterioso é real, pra logo em seguida nos mostrar o mágico fracassando, pra mais tarde nos fazer questionar o que é real ou não mais uma vez. Constantemente ficamos nesse impasse: “afinal de contas, esse é um mangá fantasioso ou não?”
Esse debate interno acaba casando muito bem com a história e com a nossa projeção em cima dos personagens da história, eles estão sofrendo exatamente do mesmo conflito e isso acaba sendo extremamente favorável na hora da identificação, que já é grande pela enrome amplitude do tema tratado.
Por ser uma série publicada online, demografias estão um tanto quanto fora de alcance, mas mesmo que tivesse sido lançada em uma revista japonesa, seria muito difícil dizer exatamente em qual, fica muito nessa tênue linha entre shoujo e o josei. É uma arte sequencial adulta, com temática adulta, mas executada de uma forma que possa agradar às mais variadas idades e até gêneros, posso facilmente ver Annarasumanara sendo publicado até como um mangá seinen.
É provavelmente por esse carácter cult e até underground, mas ao mesmo tempo abrangente e mainstream que a obra ganhou tão boas notas no Manga-Updates. Não há exclusões de grupo, tanto alguém como eu que procura algo mais psicológico, tanto uma menina que procura um romance misterioso, tanto alguém que queira ver uma arte inusitada encorporada em simbolismos inteligentes, podem aproveitar ao extremo essa incrível obra. E é por isso que…
Eu recomendo, para todos: Annarasumanara
Online // Download // Download PT-BR
Esse manga já me foi recomendado diversas vezes no M-U, e depois de ler um webtoon em especial, comecei a ter mais vontade de ir atrás do formato, esse em especial provavelmente tem um lugar alto na lista de próximos.
Seu troll baka.
Judeu, seu troll.
Eu fui seco no “Download PT-BR”, kkkkkkkkk
Eu fui com os olhos cheios de lagrimas quando apertei. Judeu MASTER OF TROLLING
Annarasumanara é uma das primeiras webcomics que li e é minha favorita até hoje. Não sei se é pelo impacto que tive ao ver as páginas enormes ou as páginas com colagens, mas tudo me pareceu muito lindo.
Só acho que a autora levantou muitas questões na sua própria obra e algumas delas acabaram ficando ali sem conclusão ou são resolvidas de forma rápida demais (como a questão da pobreza da Ah-ee que é o que mais pega no primeiro volume, e é “resolvido” de forma bem simples).
Annarasumanara é uma das minhas obras favoritas (incluindo mangás, manhwas e qualquer outra coisa) e acho que todos deveriam ler e conhecer essa maravilha.
Assim que li seu texto me veio a mente um autor e uma obra em especifico dele. Neil Gaiman e o comic Mr. Punch. Estou lendo ele no momento e fala tbm do tema “vida adulta”, porem sendo narrado por um adulto que recorda acontecimentos da infancia.
Agora o que me lembrou mais foi isso que vc falou de “parece que estou lendo uma amostra fotográfica indie moderna”. Já que a maior parte são fotos contracenando com um desenha um tanto…bizarro, digamos.
Adorei o seu review, pretendo correr atraz da obra assim que eu tiver tempo.
Helloo-u tem sim pra baixar em PT/BR! Tem uma scan trabalhando em Annarasumanara.
Baixar – http://ecchimustdie.wordpress.com/annarasumanara/
Ler Online – http://centraldemangas.com.br/online/Annarasumanara
Faz 2 dias em que li Annarasumanara e, fiquei tão fascinada e obcecada pela obra que passei a madrugada em claro lendo. A obra em sí é surpreendente e marcante, nos faz questionar sobre o que queremos e se devemos seguir o padrão que a sociedade nos impõe. Essa estória com certeza vai ficar marcada :’s
Que bacana!
Recomendo ouvir também nosso podcast sobre Annarasumanara, em que discutimos a obra toda com spoilers: https://aoquadra.do/2013/09/09/manga2-60-annarasumanara/
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