Outono de 2012: Zetsuen no Tempest

A tradição do blog de comentar sobre mangás que estão ganhando estreias nesta temporada falará de seu último título desta leva do Outono de 2012.

Aqui, falaremos do shonen genérico, mas não tão genérico assim, chamado Zetsuen no Tempest.


(Clique nas imagens se quiser ampliá-las)

Em publicação desde 2009 na Shonen Gangan (mesma revista de Fullmetal Alchemist e Soul Eater), Zetsuen no Tempest está atualmente com 7 volumes e contando. Tem o conceito inicial criado por Kyo Shirodaira, roteiro escrito por Arihide Sano e desenhado por Ren Saizaki.

Mahiro Fuwa teve a sua família toda assassinada, incluindo sua irmã, pessoa com quem ele mais se importava na vida. Em vez de se conformar com a falta de solução da polícia, ele decide caçar e se vingar do assassino, sozinho. Yoshino Takigawa, um antigo amigo de Mahiro, o reencontra e descobre que Mahiro agora é capaz de usar poderes mágicos, atribuídos a ele através de talismãs que ele conseguiu com a ajuda de uma princesa de um clã que reverencia um Deus chamado “Árvore do Início“.

Esta princesa está isolada numa ilha, aprisionada após ser traída por seus companheiros de clã, que estão tentando reviver a “Árvore de Zetsuen“, que trará a destruição ao mundo, e esta princesa (através de um objeto de madeira que serve como “celular”) oferece ajudar Mahiro a encontrar o assassino de sua irmã se ele ajudá-la a sair da ilha onde foi isolada. E essa trama ainda envolverá frutas gigantes que transformam pessoas em metal, poderes mágicos, borboletas e citações a Shakespeare.

O mais curioso de tudo é que esta sinopse acima provavelmente está muito confusa, como se eu tivesse dado uma overdose de informações, comprimidas em um curto espaço. E é justamente essa mesma sensação que temos nos primeiros capítulos de Zetsuen no Tempest. Os autores decidem apresentar grande parte dos conceitos do mundo em pouco espaço, tornando o início do mangá uma salada bagunçada.

Curiosamente, enquanto lia o mangá, minhas experiências anteriores me deram a impressão dele era adaptação de um novel (tipo de livros curtos no Japão), pois é bastante nesse tipo de adaptação os equívocos cometidos neste mangá. Essa chuva de informações é melhor absorvida na mídia escrita e não na arte sequencial que é o mangá, porém muitos mangás que são adaptações de novel não percebem isso, e transpõem diretamente a narrativa para o mangá, causando essa estranheza. Infelizmente, descobri que Zetsuen no Tempest é um mangá original, mas não satisfeito, fui pesquisar o background dos autores e minha teoria estava certa: o autor Kyo Shirodaira escreve novels principalmente, e portanto esse “problema” tem origem explicada.

Deixando essa questão de lado, o mangá tem um conceito muito interessante e diferente para a magia do mundo. Todo o poder mágico (até certo ponto) provém das “oferendas” à Árvore do Início; você oferece alguma criação da civilização (um colar, um relógio, uma arma) e ela te dá em troca poderes mágicos. Quanto mais “evoluído” é o objeto oferecido, maior o poder mágico resultante (oferecer um tanque de guerra, por exemplo, dá um poder mágico enorme). Porém, como a Árvore do início preza pela “normalidade” do mundo, as magias são todas defensivas, e portanto tudo que os usuários conseguem fazer são barreiras defensivas, curar ferimentos não letais ou se mover em alta velocidade (não me pergunte o porquê).

O conceito é bastante inovador e diferente do que estamos acostumados, porém ainda assim não deixa de ser burocrático e muito mal explicado em alguns aspectos, enfraquecendo a obra nesse aspecto. Aparentemente os autores julgam que uma explicação detalhada desta parte do mundo não é importante para a obra, e ao longo do mangá você acaba tendo que se “acostumar” com a falta de explicações e aceita a magia como ela é.

Mas precisamos ser justos, pois no mangá não existem apenas os problemas resultantes por ter sido idealizado por um autor de novels. A principal característica positiva desse tipo de transposição de mídia está presente em Zetsuen no Tempest: enredo coeso. A magia não é tão bem explicada, mas todos os pormenores dos acontecimentos são muito bem fechadinhos e planejados, fazendo pelo menos as reviravoltas do enredo serem lógicas e não traírem a obra.

Os autores fizeram um trabalho muito interessante ao entrelaçar o enredo com diversas obras de Willian Shakespeare, algo no mínimo inusitado em um mangá shonen. Citações diretas feitas por personagens e até pequenos detalhes, como a jornada de vingança de Hamlet ser espelhada na atitude de Mahiro, dão um brilho diferente a obra e dão uma profundidade melhor para o enredo se o leitor estiver familiarizado com as obras do autor. O próprio “Tempest” do título do mangá é uma referência ao livro “A Tempestade“.

Algo inusitado do roteiro é que ele pode ser muito anti-climático para quem busca ação desenfreada e poderes legais. Como dito, os poderes mágicos são bastante restritos, e em certo momento acabam sendo relegados ao pano de fundo dos acontecimentos, pois a narrativa foca-se nos conflitos ideológicos e em longas conversas argumentativas. Esse ao mesmo tempo é um ponto interessante e ruim da obra, pois aqui traz-se outro problema de autores de livros: diálogos longos e expositivos, características que não combinam com o estilo narrativo de um mangá. Embora toda a batalha mental que ocorre do meio pro fim do primeiro arco da história ser bastante interessante e bem desenvolvido, ela se torna cansativo em certo ponto, justamente pela pouca alternação entre a ação e as conversas longas.

O traço de Ren Saizaki é competente. Pode-se dizer que ele é até bonito e detalhista, mas não é nem um pouco carismático, sendo inclusive até meio genérico, embora as cenas de ação sejam dinâmicas e bem detalhadas. O design dos personagens é bem simplista e sem muitos exageros típicos de mangás (sem cabelos e roupas impossíveis), mas ao mesmo tempo consegue conferir bastante personalidade aos personagens.

Não duvido que muita gente vá ver o(s) primeiro(s) episódio(s) do anime achando que tratará-se de mais um mangá de ação e luta sem propósito. E ele provavelmente será em boa parte da animação, mas que fique claro que esse não é o foco do enredo do mangá. A adaptação pra anime pode dar ênfase às lutas por serem o aspecto que mais chama a atenção do público geral, mas quem estiver vendo o anime só pelas lutas irá se decepcionar fortemente com o final anti-climático do primeiro arco de acontecimentos. Por outro lado, quem quiser algo diferenciado, pode acabar gostando muito desse foco diferente, dependendo, claro, da fidelidade da adaptação.

Não é um mangá perfeito, mas não é um mangá ruim. É penoso, longo em algumas passagens, mas tem algumas ideias bem interessantes. Acho que vale ao menos a “segunda chance” de acompanhar os acontecimentos subsequentes do enredo; vai que alguém gosta!

2 comentários

  1. Deus do céu! ALGUÉM LÊ ISSO ALÉM DE MIM? O.O Só falta dizer que lê elemental gelade e Countrouble…
    O traço, talvez pelo estilo de escrita, me lembra Death Note, principalmente no início da série, agora tendo mais diferenças no mesmo.

    E embora o Juumonji comentou sobre a troca equivalente, ambos são conceitos gerais de magias, etc. Enquanto FMA usa isso no lado mais cientifico (não pro lado mitológico da alquimia), Tempest usa o conceito de que você deve dar algo para agradar Deus.

    Jashin e Gaara do Naruto usavam sangue, várias religiões usam esses rituais, agora a pergunta que fica é, essa árvore dá um tipo de conhecimento para os magos, esse conhecimento podemos supor que uma vez ou outra criou as armas, ou os próprios magos as fizeram pra usar magia, então qual é a da árvore nesse ponto? (duvido que seja explorado) Criar para criar algo que ela poderia dar de graça? Ou ela realmente teme as armas ( o que não é muito lógico pelo que vemos no ponto atual da série) até por que ou ela vai contra elas, ou manipula elas.

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