Outono de 2012: Litchi Hikari Club

Terceiro post da série “Outono de 2012“, onde falamos sobre mangás que estão ganhando algum anime nesta temporada de estreias do Japão.

Hoje, falaremos de uma das obras de um autor aclamado, mas que promete ter um anime merda. Falaremos de Litchi Hikari Club!


(Clique nas imagens se quiser ampliá-las)

Litchi Hikari Club é um mangá de 1 volume apenas, lançado em 2006, escrito e desenhado por Usamaru Furuya, autor de várias obras relativamente conhecidas, como Jisatsu Circle, The Music of Marie, Genkaku Picasso, e atualmente trabalha em Teiichi no Kuni para a Jump SQ. O mangá foi publicado na Manga Erotics F, mesma antologia de A Girl By the Sea, do Inio Asano, e de forma similar, também possui vários elementos sexuais envolvido na trama. O autor é reconhecido pelo seu traço detalhista, sua “pegada alternativa“, e roteiros adultos envolvendo crianças; e Litchi Hikari Club tem tudo disso.


O mangá trata de um grupo de nove estudantes de um colégio totalmente masculino, que se juntam em uma fábrica abandonada e formam um grupo secreto (Hikari Club) sob o comando de Zera, o líder inteligente e cruel. Todos os membros do grupo são sádicos de alguma forma (mesmo que seja pela omissão) e alguns tem uma sexualidade indefinida, variando entre o homossexualismo e a adoração por mulheres jovens e bonitas. O clube cria um robô com o objetivo de capturar jovens lindas para servirem de objeto de adoração; esse robô se chama Litchi, pois é movido através do suco da fruta (a lichia), e será a chave para o desmoronamento do grupo.

Como já dito, o grupo é extremamente sádico e o Furuya nunca nos pouca de certas cenas com gore extremo, como personagens manipulando intestinos recém-arrancados de uma vítima ou uma garota violada por um cano de ferro. A violência, seja visual, sexual ou psicológica, é uma das características mais constantes da obra. E o roteiro gira em torno disso em 100% do tempo.

Os personagens do clube, embora compartilhem o sadismo, formam um grupo bastante heterogêneo. Tem o nerd, o líder manipulador, o engraçadinho, o pau-mandado, o afeminado… e cada um tem suas características bem apresentadas pelo autor logo no começo do mangá, de forma satisfatória. Com um quadro para cada personagem, cada um falando uma frase, não só serve para nos dar características gerais da personalidade de cada um (principalmente por serem bastante esteriotipados), mas serve para ver como se dá a relação e os conflitos com o seu líder, Zera.

Aliás, o líder é um personagem interessante inicialmente, com um ótimo raciocínio e altamente manipulador, fazendo os personagens ficarem presos às suas ideias, mesmo que sejam contra elas. Porém, no desenrolar da história, vemos sua paranoia crescer de forma assutadora, e se tornar, junto com o robô, a principal causa dos acontecimentos dos capítulos seguintes. O mais interessante é pensar que o líder, exímio jogador de xadrez, não é o único personagem do grupo fazendo seus “movimentos de xadrez” dentre os membros. Embora não seja uma revelação tão surpreendente (e essa parece ser uma característica das obras do autor: sempre fazer algum plot-twist no final, por menor que seja), tal fato é ao menos interessante.

Para quem se incomoda, é bom deixar avisado que o mangá tem carga sexual explícita, e ela é em sua quase totalidade homossexual. O Usamaru abandona o campo do “sub-entendido“, sendo bastante explícito e claro. O mais interessante é que essa clareza só nos mostra que a relação entre eles não é nada bonita e romântica, e sim quase degradante, e totalmente intrínseca ao roteiro. Inclusive, no final das contas talvez a sexualidade seja a grande motivação por trás da obra, mesmo que de forma não tão direta no roteiro.

A criação do Litchi traz uma discussão interessante à tona. O objetivo do robô é encontrar uma moça linda, porém os membros do grupo têm dificuldade de deixar claro para o robô qual é a definição perfeita de beleza. E frustrados por não conseguirem deixar claro para o robô como ele deve escolher, optaram por incluir no cérebro eletrônico dele um “conceito” para fazê-lo decidir por si só o que era beleza: programam na mente dele a ideia “Eu sou humano”. Essa ideia será a força motriz por trás das ações do robô, que repercutem na obra como um todo, principalmente quando há o levantamento da discussão sobre a “humanidade” em uma forma de vida artificial.

Acho que é bem claro que o mangá não é para todos; se você não gosta de gore excessivo (principalmente nos capítulos finais) ou se ofende com abordagens sexuais em adolescentes, Litchi Hikari Club definitivamente não é para você. Ainda assim, como quase todo o mangá de Usamaru, é extremamente dedicado aos temas que ele quer discutir, evitando portanto “rebarbas” e “adereços” desnecessários ao enredo principal. É um roteiro bem simples e direto, envolvido pelo o traço sempre competente de Usamaru, se tornando uma obra bem interessante de boa carreira do autor.

Porém, apesar de ser um bom mangá, tudo indica que o anime que nascerá dele será ruim, ou ao menos, uma depravação enorme da ideia original. O anime se chamará Litchi DE Hikari Club e mostrará personagens super deformados e transformará o enredo em comédia, em uma animação de baixa qualidade! Acho que não precisa de mais nenhum argumento para dizer que tem tudo para ser uma bomba. Só por essas informações já existem motivos suficientes para ignorar o anime e ir atrás de ler o mangá apenas. É o melhor que você faz.

16 comentários

  1. Li bem pouco do Furuya (apenas Music of Marie, pra falar a verdade, e uma folheada na edição da Viz de Genkaku Picasso) e já curti o estilo do cara e pretendo pegar esse mangá pra ler, e como esperado, passarei longe do anime, que, realmente, só pode sair bomba.

  2. HEY! Vi o anime agorinha há pouco.
    E quer saber? Até funciona.
    Assista pensando que aquilo é uma experiência de um cientista maluco, que decidiu materializar o jeito q uma fujoshi assiste as coisas, e deu naquela versão de Litchi Hikari Club.
    É tipo “olha, tudo q tem nesse mangá é errado, mas vamos tratar como se fosse normal e engraçado. Vamos ver no que dá.”

  3. vi o anime alias por indicação do pessoal do VQ eles também comentaram desse post bem pelo menos o anime serve como comedia mas é o oposto ao mangá fazer oque.

  4. Me indicaram esse mangá falando “Toma, isso é do seu estilo” e eu sou fujoshi, é… tenso isso vida. Mas enfim, ainda não li o mangá, mas dei uma olhada em um episódio do anime e achei muito interessante o fato que eu ri com uma coisa tão “errada” como abuso sexual, sequestro, mas é aquilo, acho que é mais ou menos como o pessoal do VQ disse, o anime é uma sátira sobre si mesmo, não daria pra vc transportar tudo do mangá pra um anime sem cortar MUITA coisa, principalmente pela lei rolando no Japão, e eu acho que são essas coisas grotescas que dão o charme pro mangá e que cortados no anime abaixaria a qualidade.

    Eu gostei desse anime que é um fofinho grotesco e torna tudo engraçado de uma forma negra, gosto de coisas diferentes como essa.

  5. É uma pena que o anime não represente o mangá, que apesar de grotesco, é uma história muito interessante de se acompanhar. Tinha grandes expectativas sobre o anime mas, foi uma decepção total. E eu queria saber qual é a desse formatinho de 3 minutos que está tão popular ultimamente. Anime-miojo.

  6. Eu estou acompanhando o anime, mas eu queria encontrar o mangá, mas não acho em português. Você sabe onde encontrar?

  7. Só um aviso: o termo certo não é “homossexualismo” e sim “homossexualidade”, o segundo não conota um sentido pejorativo e preconceituoso. Outra coisa, não precisa deixar avisado que o mangá tem caráter homossexual, qual o problema disso?

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