Gokukoku no Brynhildr

Gokukoku no Brynhildr é tudo que Elfen Lied poderia ter sido, mas não foi.

Elfen Lied (não o blog) é certamente uma das obras que mais diverge opiniões entre seus leitores. É muito raro de se encontrar alguém que tenha um comportamento neutro em relação ao mangá, ou você ama ou você odeia. Ou você ama garotinhas passando por experiências macabras, gore no seu estado mais trash, ecchi comercial, sentimentalismo forçado e pseudo-filosofias mal desenvolvidas, ou você odeia.

Não sei se já deu pra sacar, mas faço parte do segundo grupo, o que na verdade é bem triste. Quando o mangá começou a ser publicado por aqui pela panini, foi um amigo meu que me recomendou, ele dizia que era um mangá que quebrava os conceitos de “menininhas moe”, submetendo elas à um terror cheio de gore de alta qualidade. Por isso fui comprar com altas expectativas, mas o resultado final não me agradou e simplesmente parei de comprar no Vol8, não dava mais.

Uma das coisas que mais me incomodaram foram o ecchi e o fetichismo constantes. Sei que é possível fazer uma análise em que a obra utiliza destes exatos recursos para criticar o recurso, mas não consegui ter essa visão, era fan-service em momento que não tinha motivo nenhum além do apelo ao público, era gratuito e desnecessário. Infelizmente, esse próprio ecchi fez com que eu olhasse diferentemente para cenas, lutas por exemplo, que talvez realmente o autor estivesse querendo brincar com esse conceito.

Devido ao uso “indevido” dos recursos, já estava fixo na minha cabeça de que os peitos e o próprio harem eram comerciais, não era possível mais eu dar o crédito ao autor ao ponto dele conseguir subverter esses conceitos. Além do “universo que gira em torno de peitos de garotinhas”, o próprio lado mais dark da série não me agradou.

Nenhum dos sentimentalismos dos personagens conseguiu me convencer por exemplo, todo o contexto na verdade, parecia tão improvável e irreal, mesmo para os próprios critérios de suspensão de descrença da série, TUDO parecia (e sei que isso possa parecer genérico) forçado. Muitas coincidências, muita falta de mínimo lógico por parte de personagens, poxa, se ao menos a arte fosse boa… Elfen Lied acaba tendo pra mim o mesmo efeito de Gantz.

É possível realizar uma análise mais aprofundada e realmente surgir com mensagens interessantes por trás de uma obra aparentemente rasa? Sim. Mas infelizmente, a falta de uma boa estruturação, o fan-service seuxal, os personagens pouco cativantes que implicam em um sentimentalismo barato, nos barram de realmente dar crédito ao autor de poder pensar em algo além para a história.

E é por isso que eu gostei tanto de Gokukoku no Brynhildr.

Sendo curto e grosso aqui, a sensação que tive ao ler Gokukoku no Brynhildr (ou Brynhildr na Escuridão), foi que Lynn Okamoto pegou Elfen Lied e se perguntou “Onde foi que caguei aqui?”, ou mais provavelmente “Onde posso melhorar isso?”, parou, pensou e realmente melhorou. Brynhildr é isso, um Elfen Lied melhorado.
A sinopse “burocrática” do mangá é sobre um jovem garoto chamado Murakami, que devido a um acidente, sua amiga chamada Kuraneko morre justo no dia em que iria lhe mostrar os aliens que afirmava existir. Vários anos se passam e agora Murakami é um jovem estudante com o sonho de um dia ir pra Nasa, encontrar os aliens de sua falecida amiga. Tudo “normal” até o dia em que uma garota nova aparece na classe, o problema é que ela nãos só parece exatamente com uma versão crescida de Kuraneko, mas também possui um nome muito parecido, Kuroha Neko. Ela insisti que nunca viu o protagonista na vida e como se isso já não fosse bizarro o bastante, a garota também possuiu uma força sobre-humana, afirmando ser uma maga.

Mas de novo, essa é a sinopse comercial do mangá, o contexto e situações levam à exata estrutura básica de que era o mangá das mãos invisíveis: garotinhas com forças sobrenaturais que sofreram experiências bizarras, gore e um harem formado pr um jovem garoto e essas meninhas. No entanto, se é tão parecido com Elfen Lied, por que eu afirmo gostar tanto assim? Os detalhes, o segredo está nos detalhes.

É o que já falei, a impressão que tive foi que Okamoto queria corrigir tudo de errado em sua obra anterior. Então, primeiramente, a quantidade de ecchi caiu absurdamente, não terminou por completo, mas comparando com Lied, que tinha 3 cenas forçadas por capítulo, para agora termos vários capítulos sem nenhum insinuação sexual, é praticamente uma vitória.

O personagem principal é outra conquista. E isso talvez realmente seja algo pessoal, mas um dos maiores defeitos da obra mais famosa do Lynn, era de fato, o Kouta. Passado mal trabalhado, desenvolvimento fraco, raso e chato são só alguns dos adjetivos que posso dar a este personagem principal… tá bom, talvez isso é mais hate meu do que qualquer outra coisa, mas o Murakami está praticamente em outro nível, realmente nos identificamos e torcemos para este personagem. O desenvolvimento geral e objetivos do principal em Brynhildr são muito mais reais e críveis, Murakami é um bom personagem.

Mas a maior evolução de fato no mangá, está no enredo e no plot como um todo, simplesmente parece que o Okamoto aprendeu a escrever. As batalhas (e isso talvez tenha relação com a variedade de poderes) são muito emocionantes, os personagens cativantes (e não irritantes) mesmo sendo presos aos mesmos clichês de sempre, mas o mais importante, é que finalmente é possível ver um planejamento, um pensar pelo autor.

Enfim, talvez todo esse julgamento vago é totalmente precipitado e inadequado, afinal de contas o mangá tem só 25 capítulos até agora, mas a mensagem que queria passar é que li Gokukoku no Brynhildr e gostei, li Gokukoku no Brynhildr e me acendeu uma chama de esperança, uma chama de esperança de finalmente poder ler o que gostaria que Elfen Lied fosse, e por isso sim…

Eu recomendo: Gokukoku no Brynhildr

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21 comentários

  1. Saudações

    Devo discordar muito de você no que tange à Elfen Lied, nobre rapaz. Para mim, o gore e o trash foram elementos importantes na obra que, no seu real fundamento, tinha todo um agrupamento de ideias passadas pelos seus personagens. Tudo isto em um ambiente hostil, no qual o próprio homem, uma vez mais, este traçando um cruel destino para a própria raça…
    Nota: o acúmulo de fetichismo também me incomodou, mas tudo bem…

    Mas vamos falar sobre a obra que aqui dissertaste.^^

    Julgando pelos eu texto, Gokukoku no Brynhildr realmente deve atrair. Se ele possui uma consistência em sua história, na qual não precisou em nenhum momento mostrar cenas de sensualidade e similares, certamente é uma vitória. Obras deste gênero que não mostram isto são uma raridade atualmente…

    Não sei até aonde esta obra poderá realmente chegar. Mas o certo é desfrutar do momento e acompanhar, passo à passo, o desenrolar desta trama.

    Ótimo post.

    Até mais!

    • É, acho que no final é aquilo que falei mesmo, existe a abertura na obra pra esse tipo de interpretação? Sim. O que acaba influenciando mesmo é a interpretação pessoal e a quantidade de crédito que o leitor está disposto a dar para o autor.

      Pessoalmente não consegui botar muita fé (fé mesmo, por ser uma atitude fora do espectro do raciocínio lógico padrão XD) no Lynn, mas acho que consigo entender quem conseguiu…. um pouco.

  2. IMO, o Okamoto já dava indícios de que melhorou como mangaká em Allumage, um dos meus one-shots favoritos. É, Elfen Lied foi o primeiro mangá do cara, e já passaram 10 anos, né. Okamoto teve uma porrada de tempo pra se aprimorar. Parece ter sido o caso.

  3. Elfen Lied é só um harém com gore e uma tentativa de “mostrar como o mundo como ele é”, ou seja, um monte de gente aleatória morrendo e matando.

    Eu poderia até aguentar isso se a progressão do enredo nao fosse cheia de reviravoltas convenientes.

    • “reviravoltas convenientes” acho que era essa a expressão que estava tentando encontrar, mas não achei, descreve muito bem todo o cenário do mangá. Acho que Brynhildr tem bem menos disso, ou pelo menos o roteiro mais redondo ajuda bastante em esconder.

  4. Nunca considerei Elfen Lied um primor, mas não foi de todo mal. Realmente aqueles apelos sexuais desnecessarios, e a kouta e não consegue se desenvolver. Porem a proposta e boa, esse e um exemplo de manga que tinha potencial mas n desenvolveu. Como voce tbm dropei no manga no meio e ja tinha visto o anime, mas q OP perfeita.
    Da forma q voce divulgou o gokukoku acho q vou da uma chance a ele.

  5. Não consegui ter uma visão tão positiva de Gokukoku quanto você, achei o enredo previsível demais e alguns personagens conseguiram me irritar muito (Kotori), achei mediano MAS, seu texto me fez refletir um pouco sobre Elfen Lied, acho que eu acabei hypando a obra demais. O anime foi o primeiro Seinen que eu vi e quando eu li o manga eu não me ofendi com o fanservice forçado e achei o sentimentalismo muito profundo. Só apos ler Devilman, Berserk, OMK entre outros, foi que eu consegui enxergar os defeitos(Mesma coisa com Gantz….), cheguei até a achar o manga mediano(O manga, revi o anime e achei nostálgico…) mas ainda assim achei superior a Gokukoku, acho que só com uma segunda leitura vou conseguir chegar a uma conclusão.

    “Uma das coisas que mais me incomodaram foram o ecchi e o fetichismo constantes. Sei que é possível fazer uma análise em que a obra utiliza destes exatos recursos para criticar o recurso…”
    Sempre tive essa teoria, lol. Mas mesmo que isso seja verdade, tem que se admitir que a critica foi falha…

    Texto muito bom como sempre,continue com o ótimo trabalho o/
    PS: Já leu Drifters? É do mesmo autor de Hellsing e até o momento estou gostando bastante.

    • Normal cara, o primeiro seinen sempre tem um lugar guardado no nosso coração. Até hoje não consigo lançar uma crítica à Berserk, nem sobre a fase atual. Mas fico feliz se acrescentei em algo a sua visão.

      Nunca tinha ouvido falar de Drifters não, já coloquei na lista de “Plan to Read” aqui, obrigado.

      • Sinceramente, Berserk foi um dos últimos Seinens que eu li e eu não consigo fazer uma crítica a ele mesmo. Já não bastava o Miura ser um puta de um desenhista, o cara ainda é um escritor mais sinistro ainda. Sim eu gosto mais da era pós Golden Age, e acho que o arco do Vaticano é sem dúvidas alguma o mais bem escrito.

      • É Gabriel, não sou TÃO extremista assim também. Acho que Berserk pós-eclipse é sim bem menosprezado pelas pessoas, o próprio arco do Vaticano comentado por você é de uma qualidade qualidade extrema.

        No entanto, desde que Gutts resolveu montar o grupinho, apesar de todo esse negócio do demônio interior ter sido desenvolvido muito bem tivemos vários clichês de histórias medievais e aventura, além de outros defeitinhos que não prejudicaram a obra como um todo, mas que impedem uma comparação com a a maravilha que foi a Saga de Ouro.

        Mas de fato, é um dos melhores seinens que já li concordo com isso.

  6. Pois é, ainda não sei como consegui assistir todo o anime de Elfen Lied. Pensando bem, só consigo lembrar que ele era um saco (onde estava meu senso crítico na época? Pelo menos minha memória percebeu que aquilo não passava de algo inútil e é por isso que não lembro de praticamente nada da história, sequer dos personagens).

    Acho que é a primeira vez que comento no blog (mesmo já tendo lido vários posts aqui publicados), e só vim para ajudar no “haterismo” em relação ao Elfen Lied (também ia falar mal da música de abertura do Anime, mas resolvi procurá-la no Youtube antes de comentar… e não é que ela é interessante mesmo? Pelo visto não lembro de praticamente nada. Poxa, neurônios! O que aconteceu por aqui?). Mas uma boa indicação é sempre boa. Quem sabe não resolvo procurar Gokukoku no Brynhildr para ler, qualquer dia desses?

    Abraços e parabéns pelo post.

    • Obrigado.

      E estou surpreso pela onde de haterismo por Elfen Lied, juro que achava que viria uma onde de crítica tipo “Você nem leu o mangá inteiro” pra cima de mim. Acho que o público aqui é outro…
      E lembro que cheguei a ver a abertura de Elfen Lied há um tempo atrás e de fato é excelente.

  7. Eu consegui tirar algo de positivo de Elfen Lied ,e eu achei o final da série lindo,mais vamos aa coisas que me incomodaram na série:
    O mangá para min tem três protagonistas Lucy,Dr.Kurama e Kouta. Enquanto os dois primeiros tiveram um desenvolvimento satisfatórios o Kouta teve(ou não) um desenvolvimento raso e ruim.
    Outro ponto que me irritou ao ler o mangá foi as coincidências que são jogadas na sua cara e não tem impacto algum.
    E por ultimo e mais irritante o Bandou é imortal???!!! Ele perdeu um braço,ficou cego e depois é partido ao meio e no final ele ainda esta vivo,que baita saúde em filho.
    O ecchi eu não reclamo pois deveria servir para chamar a atenção dos leitores para conquistar os fãs,como aconteceu em Soul Eater(que depois desaparece quase por completo,caso que não acontece em Elfen Lied),mas as citações sexuais são outro assunto que acho desnecessário na obra.
    Eu concordo que a série poderia ter sido mais desenvolvida,mais o que eu vi nela me agradou,respeito sua opinião e concordo com alguns pontos destacados por você(por isso não vou colocar seu nome na boca do sapo XD).
    Uma coisa que vale são os One-Shots que tem nos volumes de Elfen Lied,aquele One-shot do primeiro volume eu achei ótimo, o nome dele é MOL.
    Ótimo texto e recomendação,depois dessa eu concerteza vou ler Gokukoku no Brynhildr .

  8. Como muitas outras pessoas nos comentários, também discordo quanto ao que você comentou de Elfen Lied, acho sim que é totalmente crível o que ele cria, o preconceito ao redor dos chifres na história é muito bem trabalhado, tornando muito real as reações dos personagens e das pessoas, acho realmente incrível o mangá nesse aspecto. E quanto ao Gokukoku, fiquei esperando ele ser lançado, devo ter acompanhado até o terceiro capítulo, mas com tantas outras coisas pra ler e ver acabei deixando ele de lado, seu texto me fez lembrar de quando lia, devo voltar e ler os capítulos que ainda não li, mas até onde fui estava gostando bastante também. Ótimo texto judeu o/

  9. Não assisti Elfen Lied e não pretendo faze-lo, mas enquanto ao brynhild irei dar uma chance vlw a dica.

    OBS: Só por curiosidade Brynhildr é uma valkiria.

  10. Fui assistir a Elfen Lied há uns tempos atrás, estava cheio de expectativas para com a série, e sinceramente? Que decepção. Ecchi desnecessário, cenas de harém idiotas e inconvenientes, personagens rasos, frases pseudo-filosóficas alheias pra dar a sensação de que aquilo tem profundidade, sentimentalismo forçado e um enredo sem lógica alguma. Talvez isso tenha sido a coisa que mais me desagradou em Elfen Lied. O enredo do anime é totalmente sem lógica, simplesmente não dá, mesmo eu tentando elevar ao máximo a minha suspensão de descrença, tudo ali era tão inverossímil, tão “WTF?”, tão fora de propósito e de lógica que sei lá… Mas apesar de tudo isso, eu não cheguei a odiar Elfen Lied, embora eu tenha bons motivos para isso, não sei explicar direito, mesmo eu encontrando muito mais pontos negativos do que positivos na série, não consegui nutrir um sentimento de ódio e desgosto pelo anime. Acho que no fundo, eu de alguma forma consegui tirar algo de satisfatório de tudo aquilo.

  11. http://www.animenewsnetwork.com/news/2013-09-07/lynn-okamoto-kiwaguro-no-brynhildr-sci-fi-manga-has-anime-in-the-works
    Saiu o anime de Gokukoku no Brynhildr! Se for uma adaptação fiel ao original, vai ser um sucesso, e olha que agora pouca gente lê esse mangá, ainda dá tempo para ler a obra e ser um poser de hipster quando o anime for lançado e fizer sucesso (E sei que vai, pois o plot do mangá é ideal para para fazer um bom anime). E vai ser bom para acelerar meu ritmo de leitura pois aí o scan vai se aligeirar mais para lançar os capítulos atrasados.

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