Já é uma pequena tradição do blog, a cada nova temporada japonesa de animes fazer uma seção falando sobre alguns dos mangás que se tornarão anime na dita temporada. E estamos às portas da temporada de Outono de 2012 (lembrando sempre que é a estação do ano no Japão; aqui, estaremos entrando na Primavera) e já é mais do que na hora desta seção voltar!
O objetivo destes posts é fazer uma pequena crítica sobre os mangás, afim de apresentá-los para quem não conhece, ou apenas acrescentar uma visão aqueles que já conhecem. E a leva desta temporada irá ser iniciada com um jovem sucesso da Shonen Sunday, o mangá Magi – The Labyrinth of Magic!
(Clique nas imagens se quiser ampliá-las)
Magi – The Labyrinth of Magic (ou só Magi, para simplificar) é publicado na antologia semanal Shonen Sunday pela autora Shinobu Ohtaka, que já era famosa pela obra Sumomomo Momomo (que particularmente não conheço). Já falei um pouco de Magi no post Top 5-1 – Shonens Semanais, mas desta vez queria fazer uma análise mais completa. Porém ainda acho o resumo do post anterior bem claro e direto, e portanto os próximos dois parágrafos estão copiados diretamente de lá. Em seguida, parto para as análises.
Magi se passa num local semelhante às Arábias que ouvimos nos contos de Mil e Uma Noites, mas não é o mesmo mundo. Nesse mundo, diversas “dungeons” surgiram em locais aleatórios do planeta, e sabe-se que dentro dela existem muitos tesouros, mas também muitos perigos. Poucos conseguiram sobreviver à aventura de percorrer essas dungeons, e muitas lendas tentam explicar mas pouco se conhece sobre o que acontece quando alguém “vence” a dungeon.
Aladdin é um garoto muito jovem (por volta dos 10 anos) que venceu uma dungeon e como recompensa agora é acompanhado por Ugo, um forte e tímido djinn (gênio) que vive dentro de sua flauta. Mas Aladdin sabe muito pouco sobre os acontecimentos fantásticos do mundo, sobre a verdade por trás das dungeons, e sobre quem são os Magi. E em sua jornada pelo mundo, conhece vários povos diferentes, aprende muitas coisas, forma amizades, e acaba encontrando outras pessoas que também venceram dungeons…
O primeiro grande trunfo de Magi é ter em Aladdin um ótimo protagonista. Possuindo uma mistura de inocência e sapiência, Aladdin serve como o guia perfeito para o leitor, uma vez que, como nós, não conhece absolutamente nada do mundo. Através do olhos deles, somos apresentados de maneira gradual ao mundo e ao misticismo presente no mundo de Magi. Porém não se engane: embora a autora utilize nomes que conhecemos bastante aqui no ocidente (Alladin, Simbad, Alibaba), nenhum personagem é representado de maneira semelhante aos contos que conhecemos por aqui; é um mundo totalmente diferente.
Aliás, há mais um único elemento emprestado dos contos originais, que é o conceito dos Djinns. Os djinns são os “gênios” que vemos em histórias como Aladdin (o da Disney mesmo), porém em Magi eles estão levemente alterados. Cada djinn habita uma dungeon e possuem poderes diferentes entre si; e algumas pessoas são capazes de utilizar esses poderes como arma após vencer as dungeons. A lógica por trás da magia no mundo do mangá é um pouco mais complexa que isso, porém é apresentada de uma forma sem pressa e bem didática, e vamos aprendendo todas minúcias conforme são necessárias para o enredo. Inclusive ainda hoje existem diversos campos “ocultos” da magia do mundo, mas com certeza serão explorados aos poucos.
O conceito de exploração de dungeons, embora resgatado posteriormente, aos poucos é abandonado para dar lugar a algo muito maior. As mudanças, no entanto, não são drásticas, uma vez que é apenas uma expansão natural do mundo apresentado; a existência das dungeons faz surgir grandes poderes no mundo que podem influenciar na balança das nações. E nesse cenário, surge uma grande nação malvada a ser derrotada. A ideia é similar ao mote de Houshin Engi, pois também apresenta uma “guerra” entre nações humanas, encabeçadas por seres com poderes especiais.
Essa mudança no enredo leva a uma discussão política bastante forte ao longo da obra, abordando questões militares e sociais, como pobreza, nobreza, soldados que só defendem os ricos, países que negociam entre si porém se odeia, escravidão… enfim, todo um universo de assuntos bem interessantes e executados de maneira satisfatória pela autora, tornando a história algo um pouco além do que costumamos ver nos shonens da Sunday.
Talvez o único grande problema da narrativa da autora seja o fato de ser altamente orientado para lançamentos semanais, uma característica bastante comum na Shonen Sunday atual. Nesse estilo de narrativa, busca-se menos capítulos “de transição” (capítulos mais calmos, sem acontecimentos bombásticos, mas importantes pra construção da trama) e mais capítulos com um grande impacto, sempre com uma revelação ou uma deixa para prender o leitor semanalmente.
Tendo isso em vista, pode-se dizer que a construção da personalidade de alguns personagens seja bastante drástica e rápida, e não gradativa como costuma ser. Assim, personagens como Alibabá, o principal companheiro humano de Aladdin na obra, parecem que oscilam muito sua personalidade ao longo da obra. Embora hoje, nos capítulos mais recentes, Alibabá esteja melhor estabelecido e trabalhado, ainda existem algumas facetas de sua personalidade que são mal explorados, porém não com a clara intenção de serem trabalhados no futuro, mas apenas como representações da característica imediatista do tipo de narrativa empregado. Ainda assim, de uma forma geral, os personagens são bem carismáticos e possuem características gerais bem marcantes, seja alguma característica visual ou comportamental.
Isso é ajudado inclusive pelo traço da autora, que é bastante competente em seu “character design“. Embora bastante cartunesco, sem qualquer tentativa de transparecer realidade (outra característica bastante marcante da Shonen Sunday), ele é única e bastante eficiente para representação de lutas e expressões faciais. Talvez a única falha no traço da autora seja uma deficiência em estabelecer visualmente os locais onde os personagens estão. Em obras como One Piece e Naruto (seus concorrentes diretos de vendas), é bastante comum explorar o visual de locais novos, apostando em características marcantes para torná-los bastante únicos. No caso de Magi, não temos tal identificação, e dificilmente saberemos distinguir uma cidade de outra olhando apenas a arquitetura. Porém esse é um problema nem um pouco grave diante da grandeza da obra.
A série como um todo é bastante agradável e democrática, tendo características que a tornaria atrativa facilmente para qualquer público, seja jovem ou velho, masculino ou feminino (principalmente o feminino que adora imaginar casais homossexuais). Possui também todos os atributos necessários para se fazer um “anime shonen de porrada” clássico, com poderes interessantes, personagens com estilo e um enredo ao mesmo tempo simples e complexo (em partes). Não seria de se espantar que seu anime obtenha os mesmos resultados que o anime de Kuroko no Basket e Ao no Exorcist, que impulsionaram essas séries para níveis de sucesso muito maiores que o mangá somente conseguiu atingir.
Fique de olho: você pode presenciar o nascimento de um grande anime de ação, se não pela qualidade, ao menos pelo sucesso. Magi – The Labyrinth of Magic virá com tudo neste Outono.
Li os dois primeiros capítulos do mangá há algum tempo, e tinha achado Magi bem bacana, nem sei o porquê de não ter continuado.
Enfim, o texto me deixou com mais vontade de retomar a leitura; se as tais questões políticas e sociais forem convincentes e bem encaixadas na obra, este pode ser realmente um shounen “mainstream” com algo a mais, o que me parece bem interessante.
Ótimo texto, como sempre.
Desde que o anime foi anunciado tenho ouvido boas opiniões desse mangá e estou inclinado a lê-lo, mas tenho muita coisa pra ler, estou esperando sair o anime pra ver o que eu acho. Ótimo texto, ainda não tinha parado para saber mais sobre a história de Magi.
Tenho que dizer que Magi foi o que trouxe novamente a vontade de ler battle shounen, com os normais da jump cansando. Apesar dos temas “dark”, ele é um manga muito “easy-going”, com bastante felicidade e diversão entra as personagens.
Ainda tem muito que evoluir, mas digo que pode virar algo grande um dia.
Eu comecei a ler esse mangá por causa desse top 5-1 mesmo de vocês. Especialmente pela parte que fala sobre a autora tratar da magia como algo bem fantástico, místico. E eu me decepcionei fortemente.
Tem tanta coisa mundo afora para pesquisar: obras da Clamp, obras da Type Moon. Livros e video-games de magia. E cada cultura trata a magia de forma diferente: temos a bruxaria da europa, xamanismo, o próprio oriente é riquíssimo nisso.
Mas o mangá só usa fogo, água, gelo e essas coisas cliches.
Eu comecei a ler Magi por conta do post Top 5 -1 mesmo. Principalmente por causa da parte que fala que a autora trata a magia de uma forma fantástica/mística. E eu fiquei decepcionado fortemente.
Tem tanta coisa mundo afora pra pesquisar sobre magia: xamanismo, a bruxaria europeia, o próprio oriente é riquíssimo nisso. Poderia pesquisar também em algumas obras mainstream do Japão, como obras de Ghibli, Clamp e Type Moon.
Mas não, só o que temos são fogo, gelo, água e todos esses elementos cliches. Pfff
Acho que aí é menos um problema da autora e mais um problema da sua expectativa vs a realidade.
Primeiro que pesquisar sobre outros tipos de magias como os citados xamanismos ou bruxaria seria um desfoque enorme do mundo concebido. Não se encaixa.
E segundo que não vejo só isso de “fogo, gelo, água”. A história já mostrou diversas magias que vão além disso, inclusive muita “mágica” não-elemental.
alguém sabe se algum fansub tem feito ele em pt?
[…] Magi no Mangatologias […]
Acompanho Magi, estou viciado! Um detalhe interessante que lhe passou, é que os djiins são inspirados nos 72 demônios de Salomão, o que oferece ainda um universos imenso de possíveis reis. A exceção de Ugo, todos os outros Djiins recebem os nomes destes demônios salomônicos. Pesquise sobre o Goetia.
[…] que considero interessante sobre o anime, mas indico, para quem não sabe nada sobre Magi, que leia esse texto do Mangatologia, onde é apresentado um pequena resenha sem spoilers do mangá e que serve como introdução para o […]
[…] Pictures, que foi responsável no passado por, entre outras coisas, Blue Exorcist, Uchuu Kyoudai, Magi e Sword art Online. Dado o histórico do estúdio e a qualidade narrativa de Arakawa, não tenho […]