Bom, vou começar encarando o problema de frente e dizer que Hikaru no Go é um dos meus mangás favoritos e que não recebe todas as boas críticas que merece, é underrated (e olha que é difícil eu dizer isso de qualquer coisa).
Só o próprio conceito de que um mangá voltado pra meninos jovens sobre um jogo de tabuleiro pra velhos, poderia dar certo… é completamente bizarro. Porra! É um mangá de esporte em que você não sabe e nunca vai saber as regras do jogo, e isso nem importa! Hikaru no Go funciona como shounen, como esporte, como um história de parceria e rivalidade, funciona até como uma história de romance (seja yaoi ou não).
Mas vamos tentar não bajular sem argumentar, por isso queria analisar hoje um dos melhores e mais importantes momentos do mangá. Infelizmente esse momento é de tão grande importância quanto é um SPOILER gigante, por isso se você ainda não leu até o volume 17 de Hikaru no Go, este texto não fará muito sentido e estragará a maravilhosa experiência que é esta leitura.
Bom, é difícil inciar a análise de um ponto específico, porque tudo que envolve a “morte” do Sai é um constante desenvolvimento que começa desde os primeiros caapítulos do mangá.
Desde os primórdios de Hikaru no Go, sempre que o Hikaru tomava interesse pelo go e realizava algum tipo de conquista, as reações do Sai mudavam para com as comemorações do garoto. Se no começo a unica coisa que o fantasma queria era que o jovem jogasse, seria natural que ele ficasse feliz toda vez que tal ato se realizasse.
No entanto, quanto mais a história progredia e quanto mais o Hikaru passava a jogar no lugar do Sai, mais o espírito percebia que, dessa vez, não poderia viver sua vida por meio de uma outra pessoas. No começo eram só alguns pensamentos passageiras, mais pra frente se tornaram reais preocupações, até que o Hikaru foi convidado para uma partida com o Koyo Toya, neste momento as preocupações se tornaram brigas concretas com o personagem principal.
Enfim, estou dizendo isso pra mostrar o quão bem planejado foi esse desenvolvimento do Sai e pra apontar quão significante foi o seu desaparecimento repentino. Quando tudo estava se rearranjando e finalmente foi encontrada uma solução para o problema do fantasma (ele poderia jogar go pela internet e tal), parecia que tudo poderia dar certo… ou não.
Aqui entra o primeiro momento incrível do mangá. Por mais que o Sai nos avisasse que ele vai desaparecer a qualquer momento (aqui, aqui, aqui e aqui), eu nunca, em nenhum momento, conseguia imaginar isso realmente acontecendo, afinal de contas, ele era um fantasma. Por isso quando aconteceu, tudo se encaixou e foi um impacto tão grande.
No começo ficamos em estado de negação assim como Hikaru ficou, realmente achei que o sai poderia ter saído por aí, ter visitado o cemitério do Torajiro ou alguma coisa do tipo. Mas como nós tínhamos a visão do Sai da situação, logo entendemos que ele realmente tinha sumido… e que nunca mais voltaria. Infelizmente essa nossa epifania aconteceu antes do Hikaru, que não havia entendido as mensagens, e então só podíamos ficar olhando com dó para o pobre garoto.
A morte do Sai ter acontecido logo após uma briga com o protagonista e assim tão de repente, fez com que ela soasse muito mais crível e real. Era como se a morte de alguém próximo a nós realmente tivesse acontecido, sem drama, sem mensagem final, sem moral da história, simplesmente um momento ele estava lá e no outro não estava mais, essa é a sensação que temos quando alguém querido a nós morre, por isso essa negação toda. E ver o Hikaru sem saber o que fazer, era como dar uma mensagem dessas para um jovem garoto e não saber o que falar, como consolar ou ajudar… só podíamos ficar em silêncio vendo ele se remoer (que é obviamente representado pela nossa falta de ação, como leitores, no enredo).
Mais tarde o garoto, que já havia prometido desistir do go (assim como um menino que promete não fazer maldades contanto que o falecido volte), encara de frente o Isumi. Só um comentário rápido sobre essa cena específica, acho simplesmente GENIAL o que a Hotta fez com o Isumi. Ela pegou um personagem que tinha altíssimas pontuações nos rankings de popularidade e desenvolveu ele de forma a gostarmos ainda mais dele, depois, pegou esse mesmo personagem e usou ele pra desenvolver o personagem principal, tudo isso sem nunca soar forçado.
Hikaru queria ver o Sai de volta e pra isso realmente estava disposto a nunca mais jogar go (ou pelo menos era isso que ele falava pra si mesmo), mas ele sabia o quanto devia para o Isumi e a partida entre os dois guardava pra ele também um gosto amargo na boca. Claro que o personagem estava morrendo de vontade de jogar, mas ele não foi jogar por ele, nem pelo Sai, foi pelo Isumi e isso foi extremamente consistente no enredo.
E então finalmente temos a epifania e aceitação do nosso protagonista, Hikaru aceita que nunca mais verá o Sai e que a única forma de guardar a existência dele seria por meio de seu go. A felicidade do garoto em poder “ver” o sai novamente é expressa em lágrimas que realmente tocam o leitor, é tão gratificante poder ver esse garoto que não sabíamos, nem podíamos ajudar, encontrar a resposta sozinho e conseguir voltar a sorrir.
Aliás, esse “plot” do “go do Sai estar no go do Hikaru” é algo que também estava sendo construído desde lááá do comecinho, acho que essa é a verdadeira genialidade em Hikaru no go, essa habilidade da Hotta em construir muuuito vagarosamente pequenos trejeitos e características nos personagens, para mais tarde amarrar tudo num grande plot rodeado de emoção e projeção em personagens (e claro que a arte e narrativa do Obata SÓ AJUDA, dava pra fazer outro post só falando sobre ele :D).
Enfim, a aceitação de Hikaru (olha, é o nome do post!) só termina quando ele vê o Sai em seus sonhos. Gostaria de comentar que acredito que muita gente pode ter mal-interpretado essa cena, eu pelo menos vejo o Sai deste sonho não como o “nosso Sai”, mas como o “Sai do Hikaru”. Não é atoa que o fantasma fica mudo durante toda essa cena, ele está assim por que ele não é o Sai, aquilo era uma projeção do próprio Hikaru, uma forma dele finalmente se livrar do peso de não ter deixado o fantasma jogar e de abraçar o seu destino e a sua escolha de ser a memória viva de seu mestre.
Um ótimo encerramento para um ótimo plot e um separador perfeito para a segunda parte que vem logo em seguida, afinal de contas, era necessário matar o Sai para que o Hikaru pudesse andar com as próprias pernas e é realmente isso que acontece.
Nunca comentei no blog por pura vergonha ou simples falta do que dizer (dsclp), mas sendo Hikaru no Go eu me sinto obrigada a comentar. Embora agora eu também não saiba o que dizer, porque, honestamente, você disse tudo. Esse é um dos melhores momentos de todo o mangá, e me irrita ver gente falando que o Sai não deveria ter “morrido”. É como quem fala que o final foi ruim e terminou do nada. Não é difícil entender a mensagem, é? “Ligar o passado com o futuro.” É triste ver o Sai desaparecer, mas é a melhor coisa que poderia acontecer ao Hikaru.
Genial o post. Uma coisa que eu não sei se você ou alguém mais percebeu, mas a participação do Sai, em média, decresce MUITO no volume Sayonara (do sumiço do Sai) e o anterior.
Quando eu li, tomei o sumiço do Sai como algo possível, mesmo quando ele mesmo citou isso (apesar de muitas vezes parecer só desespero de jogar). Até aí, o Sai era praticamente um encosto do Hikaru de fato. Aparecia em 90% dos quadros em que o Hikaru aparecia.
Nos últimos volumes pré-“morte” do Sai, tem MUITOS quadros em que o HIkaru aparece e o Sai não tá em vista. E coincidentemente, só reaparece quando o Hikaru lhe dirige a palavra. Ou seja, neste momento ele já estava a um passo de sumir, mas o Hikaru não se dava conta.
Isso fica muito visível num capítulo pós-partida em que o Hikaru sai da sala de jogos pra comprar uma bebida de máquina e nos quadros em que se seguem dele andando pra máquina, existe um espaço de cenário que caberia perfeitamente o Sai ali. Mas ele só reaparece em cena quando o Hikaru pergunta pro Sai algo sobre o que um coadjuvante acabou de falar. Foi nessa hora que me deu o click.
Digo o mesmo que o Rizy acima. Acho que só comentei uma vez aqui no blog, isso se o fez, mas porque não tenho nada de mais interessante para falar. Mas Hikaru no Go é obrigatório mesmo se o meu comentário for uma droga.
Sem dúvida um dos melhores mangás que já li, Top 5 fácil. Além de uma construção de um plot espetacularmente maduro para um mangá teoricamente shonen, construção de personagens belíssimas e a junção de dois gênios, tanto da arte como do roteiro. (fico me pensando “Cadê outros mangás da Hotta?)
Hikaru no Go é um dos motivos que me faz pensar que os departamentos editoriais dos mangás shonen subestimam muito o seus leitores. Coma idade média do leitor de 17 anos e fazem muito mais história para abaixo dos 15. Mesmo que Hikaru já tivesse uma popularidade tão boa que não corresse nem perigo de cair, o que não bloqueou que a autora pudesse fazer o que achasse melhor para a obra, digo que os leitores sabem muito mais do que é de qualidade do que muitos pensam, com certeza essa parte da história ficou na mente de todos os leitores que leram esse mangá como uma das emocionantes de sempre.
Um detalhe que considero importante é como todos perdem, as melhores obras em que tenham competição ou esporte, as melhores são quando os protagonistas realmente perdem e ganham na devida proporção, e não infinitamente como irritam ao extremo várias obras. É uma demostração de maturidade que deveria ser sempre seguida.
Sabe me dizer se existem outros mangás da Hotta, ou ela parou de vez?
Embora goste muito do Ohba, a queda na segunda metade das duas obras(mais em Bakuman, Death Note teve mais o final bem mais politicamente correto do que deveria, quando poderia ter terminado ao estilo Code Geass) demostra que Hotta e Obata ainda formam uma dupla superior. Desejaria que voltassem mesmo se for para continuar com aquele final estilo “término de saga” ao invés de toda a história.
Comentário grande demais, no entanto espero que isso demonstre que como você, amo Hikaru no Go.
[…] Começamos com um repeteco do ChuNan, mas não consegui deixar Hikaru no Go de lado. Um mangá sobre um jogo de tabuleiro para velhos, com regras difíceis de explicar, de desenvolvimento lento e com pouca ação, sendo publicado na maior revista de mangás para garotos… Como algo assim foi se tornar o melhor caso de crescimento de personagem já presenciado em uma obra sequencial? A evolução e capricho na arte por parte do Obata e o planejamento de enredo cuidadoso por parte da Hotta explicam isso, mas só lendo e presenciando o Hikaru se tranformar de um garoto mimado em um jovem-adulto decidido para entender. Mais bajulação minha por Hikaru no Go aqui. […]