Vinland Saga e a o drama de Thorfinn

ESTE POST CONTÉM SPOILERS ATÉ O CAPÍTULO 54 DE VINLAND SAGA

Vinland Saga é uma obra que ganha muito créditos da maioria do público leitor por ser um mangá com uma história madura, baseado em fatos reais e relatos históricos, as batalhas são ótimas e com personagens bem carismáticos. Mesmo antes de começar a ler já tinha recebido várias recomendações e inúmeros elogios sobre essa obra.

Por consequência de tanto “hype”, minha expectativa estava exageradamente alta e durante 53 capítulos achava o mangá “ótimo”, mas não tão bom quanto falavam que era. Isso até o fatídico plot-twist do capítulo 53 no qual o Askeladd mata o rei, encenando um papel de louco para que logo em seguida Canute pudesse mata-lo e se tornar um grande herói e novo rei.

A virada no enredo em si é excelente, no entanto, mais interessante do que isso foi a reação de Thorfinn ao ver o Askeladd morrer. Tudo pelo que ele vivia acabou de se desmoronar em frente aos seus olhos e na primeira vez, durante a história inteira, o personagem ganhou profundida. Calma deixe-me explicar…

Durante toda a história de Vinland Saga Thorfinn sempre foi um personagem raso,  sim ele teve um passado explicado e viu a dramática morte de seu pai, mas tudo isso só serviu para explicar como ele chegou ao seu estado atual. NUNCA, nem uma única vez,  tivemos um dialogo interno de Thorfinn que não relacionado à combate, sabíamos que ele fazia o que fazia por vingança, mas não sabíamos nada além disso. O próprio Thorfinn joga isso na nossa cara dizendo “O que você sabe sobre mim desde então?” quando confrontado por Lief (cap 49) sobre o porquê dele não estar perguntando sobre sua família.

E é aí que está, Thorffin é raso, mas ele é propositalmente raso, ele é humano. Nós mesmo passamos por situações parecidas, quantas vezes você não parou pra se perguntar “O que estou fazendo?”, “Será que é isso que eu quero da vida?”? Ou se pegou insatisfeito com sua situação atual, mas continuou nela simplesmente por comodismo ou porque já está “seguindo o fluxo”. Claro que temos casos e casos, mas  comodismo e “zona de conforto”  são estado humanos, estados que raramente são explorados em qualquer tipo de mídia e é um aspecto que torna Vinland Saga bem único.

Só pensar que o próprio leitor (VOCÊ!) age desse forma ao ler este mangá. Pequenos pensamentos como “Por que você não volta pra Iceland?” surgem na nossa cabeça (assim como devem surgir na de Thorfinn),  mas logo em seguida desaparecem devido à grande excitação e tensão que são as batalhas na obra. Até pensamos sobre a atual situação do personagem, mas nunca paramos para refletir.

Por causa de todo esse contexto, que a pergunta de Askeladd, “From now… After I die, what will you do with your life, Thorfinn?”, pesa tanto no leitor. Pesa porque nós (e Thorfinn) realmente nunca paramos para pensar sobre isso. Seguindo a emoção e o desejo de vingança nos cegamos do real objeitvo que se encontra a nossa frente e nunca paramos pra pensar “no que faríamos depois”.

E neste exato momento, não é mais necessário um trabalho de empatia com um personagem, nós e Thorfinn estamos em estados mentais iguais! A sensação de confusão e desespero com o inesperado (com nós o inesperado rumo da história, para Thorfinn o inesperado rumo de sua vida) é divida em igualdade com leitor e personagem! Não é necessário simpatia, não é necessário entender o personagem, entender a história, o contexto ou qualquer outro aspecto. Não é necessário porque naquele momento VOCÊ. É. THORFINN!

Estou escrevendo isso com tanta emoção!! É simplesmente uma das cenas mais incríveis já escritas em uma arte sequencial. Não estou exagerando, até pensei em gravar esse episódio em áudio porque acho que não estou conseguindo passar em apalavras a grandeza dessa única cena, é um nível que pouquíssimos autores conseguem chegar. O mangá inteiro vale o por essa cena, o olhar de Thorfinn vale mais do que mil palavras porque é provavelmente essa mesma cara que o leitor fez ao ler essa história:

Pra encerrar, acho válido dizer que é por tudo isso que Farmland (apesar do grande desgosto da maioria) se faz necessário neste momento da história. É a primeira vez que temos diálogos internos de Thorfinn, é a primeira vez que temos a calmaria para esse tipo de desenvolvimento e provavelmente será a ultima vez que teremos ela devido ao provável grande acontecimento que está por vir. Quando Thorfinn se encontrar livre, nós não saberemos para onde ele irá (pra Iceland, pra Vinland, se tornar um guerreiro…), mas dessa vez, ele saberá.

9 comentários

  1. Essa cena é bastante emocionante mesmo, até porque tudo que o Thorfinn tinha pra sua vida era obter a vingança e matar Askelaad, mas tudo acabou quando outra pessoa fez isso por ele.

    Belíssimo texto, senhor Gabriel, espero um post sobre “Kokou no Hito e o drama de Mori”.

    • LOL, obrigado, talvez faça sim, só não vai ser com esse nome XD São posts soltos, não quero fazer nenhuma coluna, nem nada do tipo.

      Mas sim, talvez faça, só tenho que escolher a cena.

  2. Porra, Judeu, esse texto ficou bom demais. Essa parte é genialidade pura. Thorfinn perde totalmente sua base, sua direção, seu sentido na vida. Thorfinn, que era um ser raso, se torna um ser vazio.

    Ao contrário da grande maioria da fanbase, eu amo a Farmland Saga. É ela, e não os 54 capítulos anteriores, que criam o Thorfinn. Vemos ele rindo, chorando, pensando, se desesperando, se enfurecendo, fazendo amigos e inimigos. Vemos a evolução de Thorfinn, de máquina de matar para ser vivo e completo. É um dos desenvolvimentos de personagem mais épicos em qualquer meio de entretenimento, e ele só é possível por causa dessa cena.

    Pua que pariu, eu amo Vinland Saga.

    • Sim, a primeira vez que o personagem está ganhando profundida, é exatamente isso, está deixando de ser uma máquina de matar.

      Estou muito curioso pra saber o que ele vai fazer assim que conquistar a liberdade!

  3. Veja só, mas que ótimo post! Gosto muito desse tipo de análise, que se atenta ao desenvolvimento dos personagens, como a ordem dos acontecimentos influencia e coisas do gênero. Espero ver mais posts assim por aqui!

    Sobre o post, concordo em grande parte com ele. Só discordo de chamar o Thorfinn de “raso”; eu não usaria esse termo, eu iria preferir “limitado”. O personagem tem profundidade, no entanto ele optou por utilizar-se dessa profundidade para direcionar a vida para um, e apenas um, aspecto: vingança. E vimos onde isso deu.

    E aproveitando o comentário do cara acima, sobre o time-skip que muita gente reclama e tudo mais, concordo que é após isso que conhecemos o Thorfinn de verdade. Vinland Saga poderia ter começado exatamente nessa parte, e o autor nos apresentar as características do passado do personagem por flashbacks. Poderia, mas sabiamente não o fez.
    Se você conhecesse Vinland Saga a partir da saga atual e visse os flashbacks, você não iria aceitar o Thorfinn calmo do jeito que ele ficou; foi necessário uma base, uma explicação de todo o passado do personagem para nós entendermos o que o moldou do jeito que é, porque ele tomou as decisões que tomou e como um guerreiro selvagem virou um escravo fazendeiro.

    E genialmente o autor chamou todos os capítulos anteriores à saga atual de Prólogo. Sim, foi um prólogo; e um dos mais fodas e completos que já vi na vida!

    • Ah, mas no fundo eu queria esse tipo de reação mesmo XD “AH ELE NÃO É RASO”, um choque mesmo. Mas concordo, “limitado” seria uma escolha melhor, ele é raso só em alguns aspectos, não como um todo.

      Ah! E nunca pare pra pensar no “Prólogo” nesse sentido. Certamente uma escolha genial. Fica agora a grande expectativa que está se criando agora, se montando capítulo após capítulo do que Torfinn fará quando deixar de ser escravo. PQP Farmland também é muito genial!

  4. Este era um mangá que eu nem sabia que alguém, fora eu mesmo, lia, rs. Gosto muito dele. Acontece que no prólogo as estrelas são outras, a profundidade mostrada lá advém principalmente de Askelad e um pouco de Canute e até de “figurantes” da paisagem, que refletem mais sobre o que está havendo e o motivo de assim ser do que Thorfin. E, realmente, o protagonista só vem a, paulatinamente, ser alguém, deixar de ser a criança magoada e irritada que viu o pai morrer, na fase Farmland, que é genial.

    Parabéns pela análise.

  5. Eu realmente gostei bastante desse mangá, por ele passei a me interessar mais pela atividade viking e s invasões feitas contra os saxões. Eu li cronicas saxônicas, uma série de livros do inglês bernard cornwel que explica detalhadamente os fatos históricos dessa época, colocando um personagem principal fictício no meio de vários personagens reais. Esta ai a dica.

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