Embora não um consenso, uma boa parcela dos fãs de qualquer obra, seja mangá, filme, anime, livro, quadrinho… qualquer fã tem uma certa desconfiança com adaptações, as transposições de uma obra de sua mídia original para uma nova. Muitos dizem que a obra original devia permanecer intocada, e que já se encontra em sua melhor mídia. Mas fato é que sempre existiram e sempre existirão adaptações das mais diversas formas, e adaptações para mangás também não são poucas.
Observando esse mundo de constantes adaptações, existem dois principais questionamentos que mais ocorrem nesses casos: mas afinal, por que adaptar? E vale a pena adaptar?
A primeira pergunta é simples e complicada ao mesmo tempo. É fácil determinar que adaptações são feitas por apenas dois motivos:
- pelo valor artístico da obra original, o abre a possibilidade artística de transpô-la para outra mídia, buscando reproduzir a qualidade e/ou ampliar o público daquela obra, e;
- por dinheiro.

Quero muito acreditar que exista de fato o primeiro motivo, e realmente é possível verificar que muitas adaptações aparentemente são feitas com esse intuito. No entanto, enquanto esse primeiro fator encontra-se presente em vários casos, o segundo fator está presente em todos os casos, sem exceção. Mangás (como praticamente todas as formas de entretenimento hoje) se resume a ganhar dinheiro, e assim não devemos nos iludir achando que um autor do mangá fez aquela adaptação apenas por querer prestar uma homenagem à obra original; talvez ele até tivesse esse intuito, mas aquele que disponibilizou a revista para ele publicar e que cedeu os direitos autorais estão menos interessados em homenagens e mais interessados em valores.
Aceitando que sempre há dinheiro envolvido, precisamos concordar que existem boas adaptações e adaptações ruins. Para isso, o primeiro ponto a ser observado é que a adaptação precisa funcionar sozinha; caso contrário, ela é uma adaptação ruim. É essencial que a obra seja entendível e aproveitável para qualquer um que nunca tenha visto a obra original; o conhecimento prévio da obra original deve ser um “extra“, um fator “enriquecedor” da experiência de ler uma adaptação, não um pré-requisito. Esse ponto normalmente só é perceptível por aqueles que desconhecem a obra original, enquanto aqueles que a conhecem muitas vezes acabam não percebendo essa falha (grave) da adaptação.

Outro ponto importante, e esse sim percebido com entusiasmo excessivo pelos conhecedores da obra original, é a fidelidade. Muitos pregam que a adaptação precisa ser uma transposição perfeita da obra para outra mídia, a deixando praticamente intocada, e isso é absolutamente impossível; aliás, até é possível, mas pode resultar em algo desastrosamente ruim. O tipo de narrativa de cada uma das mídias é único, e portanto não é possível reproduzi-lo com perfeição em outra mídia, necessitando obrigatoriamente de algumas mudanças para essa transição manter a qualidade. E é aqui que os puritanos reclamam.
Não são poucas as histórias que sofrem mudanças significativas na sua transição para outra mídia; às vezes um detalhe pequeno, às vezes quase todo o enredo; algumas vezes intencional, outras vezes por “obrigação”. Fato é que nenhuma adaptação é 100% fiel, e isso não desmerece em nada a obra. Citando só em mangás, Shiki e Jisatsu Circle mudam bastante (esse último quase completamente) seus enredos originais na transposição pra mangá e isso não é um demérito. Por isso que o primeiro ponto citado ali em cima é tão importante: é necessário nos desapegarmos totalmente da obra anterior para julgar a adaptação. O que impera no final é que não importa se a transição de mídia deixou alguma coisa pra trás, ou colocou coisas diferentes; o que importa é a história final ser boa. Afinal, a nossa busca constante no mundo do entretenimento é isso: uma boa história.
Adaptações para Mangá

Agora nos focando um pouco nos mangás, vamos ressaltar que existem adaptações de diversas mídias. Tem adaptações de contos folclóricos japoneses ou chineses (como Dragon Ball, Hoshin Engi); de filmes (Jisatsu Circle, Kamen Rider ZO); de histórias reais, por que não?! (Densha Otoko); jogos (Kingdom Hearts); animes originais (Cowboy Bebop, Samurai Champloo) e livros (Shiki, Battle Royale). O curioso é que todas essas adaptações seguem alguns padrões específicos para cada tipo.
Primeiramente, no caso de filmes e histórias reais, conheço poucas adaptações, então me absterei de comentar. No caso dos contos, dificilmente se segue a história de forma idêntica à original; o padrão é se basear na ideia geral e, a partir disso, desenvolver sua própria história. É isso que acontece com os exemplos mais famosos, como o já citado Dragon Ball.

Já nos animes (e jogos, em sua maioria), é gritante perceber que o fator “dinheiro” é o que move praticamente todas essas produções, e move sozinho. Normalmente essas adaptações para mangá vêm na sequência do sucesso da obra original, e são menos uma tentativa de criar uma história boa, e mais uma tentativa de criar mais um objeto de merchandising, mais um produto para ser comprado no impulso do sucesso. Por isso que não é difícil vermos adaptações bastante curtas (afinal, não se sabe o quanto os fãs da obra original vão continuar seguindo a onda, então tem que ser rápido e direto), que seguem a história original, porém a “emburrecendo” e simplificando para caber num tamanho reduzido, o que normalmente resulta numa obra rasa que é pouco proveitosa para quem não conhece a história original. Claro, existem exceções, como tudo na vida; porém de cabeça apenas me recordo de Summers Wars e Hoshi no Koe como boas obras de mangá que provém de animação (não coincidentemente, ambas são derivadas de filme, o que talvez tenha ajudado as obras). Mas a regra geral é esperarmos adaptações superficiais e feitas para fãs apenas.

As adaptações de livro, por outro lado, costumam ser mais “felizes” na sua execução. Primeiro porque é muito raro essa adaptação surgir do oportunismo; e mesmo que surja, sua execução acaba sendo feita a passos mais moderados e com menos afobação. Isso resulta quase sempre numa dinâmica bastante satisfatória e, mesmo que o enredo não agrade seu gosto pessoal, não se pode negar a qualidade com que a adaptação foi feita. E claro, sempre lembrando que o objetivo aqui não é superar a obra original (inclusive muitas vezes nós do ocidente não temos acesso à ela pra comparar), e sim proporcionar uma boa experiência de leitura. Cumprindo esse objetivo, a adaptação já é válida. E as de livro são, em sua maioria, bastante válidas.
Assim, a segunda pergunta proposta no começo do post, “E vale a pena adaptar?”, é respondida de forma simples: sim, sempre vale o risco. Assim como qualquer história original com um tema que pareça absurdo (Japão feudal invadido por ETs; brincadeira de criança mudando o destino da humanidade; um caderno que tem o poder de matar pessoas) pode render uma história boa, qualquer adaptação da mais simples das obras pode resultar em algo bom. O risco é sempre válido e acreditando nisso, em algum momento seremos agraciados por mais uma boa obra.
(E esse post não termina aqui! Aguardem o próximo post, um Top 5-1 de Mangás que são adaptações!)
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