Bom, após vermos as Estatísticas dos Autores que Regressam, chegou a hora (finalmente) de analisarmos melhor o que os números nos dizem.
Que tipos de informações podemos encontrar observando os números dos autores que regressam? O que os números representam para nós leitores, para as revistas e as editoras? Vamos tentar entender.
Shonen Jump
A começar, vejamos esse baixo número de regressos na Shonen Jump. Não é de hoje que vemos autores com um sucesso nas costas falhando ao retornar pra revista; Nobuhiro Watsuki passou por isso também após Rurouni Kenshin, e nem mesmo Tsukasa Hojo e Tetsuo Hara escaparam de posteriores séries canceladas após o término de seus sucessos na revista.

Na verdade, a dificuldade dos autores na Jump é fazer um mangá de sucesso, independente de você ser um mangaká novato, um experiente autor de sucesso, ou um já cancelado várias vezes; não há favoritismo e, portanto, autores consagrados serão jogados aos leões sem distinção, tudo para manter o padrão de “qualidade” controlada pelos leitores.
No caso dos autores experientes, o fato de terem um sucesso anterior só dificulta o retorno dos mesmos. Todos os leitores que gostaram do seu sucesso anterior vão procurar o seu novo trabalho esperando algo igual ou melhor à obra anterior. Fato é que o começo de toda história é mais parada, mais devagar, e para um leitor, sair de uma história que já estava frenética nos seus últimos volumes e entrar num começo de marasmo e pequenas apresentações de personagens (algo altamente comum na Jump) é altamente impactante, e muitas vezes decepcionante.

Claro, depois de um tempo a nova história pode ser tão boa quanto, ou até superar, a anterior, mas a Jump não dá esse tempo para adaptação, e logo o autor perde o suporte de seus leitores antigos, que a princípio o julgarão como qualquer outro autor da revista (ou talvez até pior). Vale ressaltar que não foram poucos os autores que sairam de uma cancelamentos na Shonen Jump e posteriormente retornaram em outra revista com um “sucesso” (ou algo próximo disso). Inclusive na lista mostrada no post de estatística, ao menos 4 autores se encontraram em outras revistas: Kentaro Yabuki e sua continuação de To Love-ru; Ryu Fujisaki e a adaptação de mangá de Shiki; Haruto Umezawa e seu Countach, hoje com 25 volumes; e Hiroyuki Takei e sua parceria com Stan Lee em Karakuridoji Ultimo. E fora dessa lista, muitos outros autores também se encontraram fora da Jump, como Takehiko Inoue e os já citados Tsukasa Hojo e Tetsuo Hara. Isso mostra que o problema não são os autores; o problema é o ambiente da revista, com sua renovação extrema.
E após tudo isso, após ver esse baixo índice de retorno de autores consagrados, inevitavelmente pensamos em algumas perguntas como: o que Eiichiro Oda faria após terminar One Piece? Se aposentaria? Faria pequenas séries como o Toriyama? Ou tentaria uma série longa novamente e seria cancelado? Só o tempo dirá.
Shonen Magazine
Mas como foi comentado acima, um autor de sucesso anterior vai sempre ter um público garantido. Esse público nem sempre compra a revista semanal, e quando compra, nem sempre vota nas enquetes semanais; assim, embora às vezes a popularidade de uma série pareça muito baixa na revista, ela tem um grande potencial de trazer de volta os mesmos fãs do trabalho anterior, e de conseguir sempre novos leitores, bastando ter tempo para isso. E a falta de tempo proporcionada na Shonen Jump não se repete na Magazine, e por isso nesta última vemos uma grande possibilidade de retornos estáveis para autores antigos.

Como não conseguimos entender o processo de cancelamento da Shonen Magazine, é difícil especular se os retornos “curtos” são assim por cancelamento ou intencionalmente curtos. Fato é que a Magazine tem um nível bom de retorno de autores, com alguns deles trazendo sucessos muito importantes pra revista. Mas vale lembrar que a Magazine investe bastante em autores novos também, resultando numa renovação bacana da revista, no qual sempre tem alguns autores retornando para mais um sucesso, e novos autores fazendo sucessos de primeira viagem.
Shonen Sunday
Se a renovação extrema que não poupa autores consagrados da Shonen Jump está em um extremo, e a renovação equilibrada da Magazine está no meio, no outro extremo obviamente temos a Shonen Sunday. Os números não mentem: o regresso na Shonen Sunday é altíssimo! E isso inclusive é quase uma marca registrada da revista, que no seu nascimento já iniciou se apoiando em autores consagrados (como falamos um pouquinho no podcast de Antologias Shonen da Kodansha).

Mas até que ponto isso é eficiente? Se analisarmos friamente, muitos dos retornos dos autores da Sunday são longos, mas não tão rentáveis. Kyokai no Rin-ne, da Rumiko Takahashi, sofria com vendas baixíssimas no seu início; MiXiM e Gekko Jorei, do Anzai e Fujita respectivamente, também não tinham vendas muito expressivas. Claro, não estou entrando em mérito de qualidade, mas até quando o público da Sunday aguenta autores novos? Parece que não muito.
Analisando as ToCs da Shonen Sunday, muitas dessas séries de autores consagrados sofrem bastante nos rankings, mas acabam por favoritismo sendo salvas do cancelamento. Isso resulta no alongamento de séries de pouco sucesso desses autores “consagrados“, o afeta diretamente a média que calculamos, a tornando altíssima. Mas tem dois dados que essa estatística não mostrou:
- O número significativo de autores que estão vindo de um sucesso, mas de outra revista que não a Sunday. Arakawa com Gin no Saji; Yuu Watase com Arata Kangatari; Shinobu Ohtaka com Magi – Labyrinth of Magic, entre outros;
- O baixo número de sucessos de autores novatos. A última estreia de maior relevância nos últimos anos por um autor novato foi The World God Only Knows, de 2008 (4 anos atrás); e antes disso, Hayate the Combat Butler, de 2004 (8 anos atrás!).

A Shonen Jump pode ser cruel em muitos cancelamentos, mas só pensamos isso pois quase todas as suas séries são traduzidas e temos muito contato com elas, e assim vendo de perto a tristeza do cancelamento. Mas ainda assim, nos últimos anos surgiram várias séries de sucesso (grande ou moderado) na Shonen Jump feitas por autores novatos, como Nurarihyon no Mago, Kuroko no Basket, Beelzebub e Sket Dance. E agora olhamos para a Shonen Sunday e vemos que surge apenas uma série de sucesso de um novato a cada 4 anos, e percebemos o quanto essa revista está envelhecendo e seus métodos se mostrando ultrapassados (e sua regressão no número de circulação ao longo dos últimos anos é só uma prova de que essa estratégia não está funcionando tão bem).
Novamente, não entro no mérito de qualidade das histórias, o que importa aqui são os números. E os números (esses do post de Estatística e as circulações das revistas, e número de vendas dos seus títulos) mostram que, em termos de revistas semanais shonen, é mais efetivo apostar no novo do que insistir no velho.
Provavelmente o Oda vai fazer como os outros, tentar umas vezes e depois partir pra outra se não der certo. Mas tem os q dão certo né, o Toriyama, o Togashi, o Katsura, Obata e Ohba, Usuta.
Acho que ele pode estar nos q se dão bem. Ou não.
Lembrando que o autor de The World God Only Knows não é novato,ele já tinha vindo de um cancelamento.
Ah sim, isso é. Novato no contexto ali era pra “autor sem sucesso anterior”. mas valeu o toque!
É isso ai, vejo que a Sunday tem problemas para revelar novos autores, parece que eles preferem importar como você falou no texto.Legal o seu blog, parabens, ganhou um leitor.