Se você gosta (ou acompanha) alguma série shonen, a chance dela pertencer a uma antologia semanal é grande. Afinal, uma grande parte dos shonens de sucesso que temos acesso são publicados em antologias semanais.
Esse post tem como objetivo servir de guia rápido e direto com tudo o que você precisa saber das quatro principais antologias shonen semanais do Japão. Tentarei colocar informações relevantes junto com algumas visões pessoais. A ordem será baseada na circulação da antologia, da maior pra menor.
(Por ter ficado muito grande, será dividido em duas partes. A segunda parte será postada amanhã.)
Weekly Shonen Jump
Pra começar, a famosa Shonen Jump, sobre a qual já falei aqui no blog outras tantas vezes (na verdade, ela foi o foco em grande parte dos posts até aqui), é a atual antologia com maior circulação dentre todas as demografias. Sua tiragem atualmente gira em torno de 2 milhões e 800 mil exemplares toda semana.
É o atual carro-chefe da editora Shueisha, e também a origem e o rosto de um franquia com diversas outras antologias na linha “Jump“, tanto shonen (que citamos no ToCast 06) como também seinen (como Bussiness Jump, Young Jump, Ultra Jump…).
A Shonen Jump atualmente conta com diversos títulos que são os mais rentáveis em termos de vendas de volumes no Japão. Suas séries sempre figuram nas primeiras posições dos rankings de venda semanal, e as séries mais vendidas de toda a história dos mangás no Japão são, em sua grande maioria, originadas da Shonen Jump (One Piece, Dragon Ball, Naruto, Kochikame…).

Pra uma revista que começou sua publicação anos depois das suas duas principais concorrentes, é difícil estabelecer o motivo principal do seu crescimento e eventual superação de suas rivais. Sabemos que tudo se concretizou com o sucesso estrondoso da série Dragon Ball, mas é difícil crer que uma série apenas foi responsável por isso. Talvez (e apenas isso, “talvez”) esse sucesso se deva a característica principal da revista: alta circulação e atenção extrema à preferência dos leitores. Por todo o funcionamento das votações que foi explicado em outro post, o resultado final dessa política é que as séries em publicação na revista só estarão lá porque os leitores (ou grande parte deles) querem.
Mas isso é uma faca de dois gumes: enquanto existe a alta probabilidade dos sobreviventes desse sistema se tornarem grandes sucessos, o perigo eminente de cancelamento acaba tornando grande parte das séries novas da revista em algo bastante formulaico, quase previsíveis, e qualquer história muito fora da curva padrão provavelmente será cancelada. Não digo que nada de novo e surpreendente surja na revista de tempos em tempos; mas é visível que grande parte das estreias seguem esteriótipos clássicos do shonen e clássicos da própria revista, de forma até mais intensa do que é comum nas séries shonen de forma geral.

É possível dizer que a Shonen Jump há um pouco de conteúdo para cada idade; desde mais títulos mais infantis como Inumaru Dashi, até títulos para jovens adultos ou “velhos adolescentes”, com conteúdo relativamente mais maduro, como Hunter x Hunter e uma violência um pouco maior do padrão, ou Kochikame e seu público que envelheceu junto com a obra. Mas não se pode dizer que a revista é muito diversificada, uma vez que a esmagadora maioria dos títulos são na verdade voltadas para os jovens adolescentes; embora atualmente a idade média do leitor da Jump seja 17 anos, o foco da revista ainda é os adolescentes entre 11~15 anos.
Outrora com uma grande tradição em títulos de esporte, atualmente a Shonen Jump tem problemas em estabelecer novos sucessos nesse estilo. O mesmo pode-se dizer de séries de romances, que embora não tenham uma grande tradição na revista, anteriormente quase sempre existiam uma ou duas séries desse estilo em publicação e estabelecidas na revista. O que predomina hoje na Shonen Jump são os mangás de luta com elementos fantásticos.
Alguns mangás famosos da Antologia: Preciso mesmo dizer?
Weekly Shonen Magazine
A principal antologia shonen da editora Kodansha, a Shonen Magazine começou sua publicação em 1959. De forma semelhante à Shonen Jump, existem também diversas antologias que carregam o nome “Magazine”, sendo as principais a própria Shonen Magazine semanal, a sua irmã mensal, e a recente Bessatsu Shonen Magazine (casa do sucesso atual Shingeki no Kyojin).
A Magazine reinou soberana dentre as revistas shonen semanais em dois momentos: dos anos 70 até o nascimento e crescimento da Shonen Jump; e do fim de Dragon Ball na Shonen Jump até meados de 2002. Atualmente sua circulação gira em torno de 1 milhão e 400 mil exemplares semanais.
Tradicionalmente, a Shonen Magazine é casa de diversos títulos de esporte; atualmente conta com um número considerável de títulos de esporte, muitos deles já estabelecidos na revista e com vendas sólidas.
Em termos de estilos de histórias, uma coisa perceptível nas histórias da Magazine é que elas, em sua maioria, tem conteúdo e temas ligeiramente mais maduros que sua principal rival, a Shonen Jump. Isso se deve principalmente pelo fato da idade média dos seus leitores ser acima de 17 anos e, diferente da Shonen Jump que ignora seu público efetivo principal, a Shonen Magazine procura abraçar esse público.

Pouco se sabe a respeito da determinação de popularidade de uma série na revista; diferente da Jump e Sunday, na Magazine a ToC (Table of Contents) não representa popularidade. Isso é facilmente observável pois as séries em publicação alternam muito de posição, variando muitas vezes da primeira posição em uma edição para a última na edição seguinte.
Acredita-se que existem sim cancelamentos na Magazine, mas a frequência é muito menor que na Shonen Jump e não é de conhecimento geral qual critério é utilizado. A baixa taxa de “encerramentos” (ou cancelamentos) possivelmente ocorre por política interna; possivelmente os editores da revista acham que conseguem tomar decisões mais cabíveis, e provavelmente preferem confiar mais na sua própria capacidade de julgar uma boa (e rentável) história do que deixar essa decisão na mão dos leitores. Esse esquema proporciona o surgimento de séries com um formato que jamais funcionaria na Shonen Jump. Enquanto na Shonen Jump, a série precisa causar um impacto forte inicial para chamar a atenção, as séries da Magazine conseguem se desenvolver com mais calma, com um passo mais gradativo.

Por isso, é possível surgirem séries como Area no Kishi, mangá de futebol no qual acontecimentos importantes ocorrem apenas próximo ao capítulo 8; ou Daiya no Ace, mangá de baseball onde o personagem principal demora para conseguir ser escalado (e ainda como reserva) no time do seu colégio. Ou mesmo séries como Bloody Monday, uma série programada do começo até o fim, com plot twists planejados desde o primeiro capítulo e um encerramento bastante natural.
Em uma publicação como a Shonen Jump, onde o risco de cancelamento é iminente, muitas vezes a tentativa de aumentar a popularidade de uma série causa mudanças bruscas no enredo, para o bem ou para o mal. Outras vezes também uma série de sucesso não consegue encerrar-se quando o autor deseja, pois a revista tenta alongar ao máximo um título de sucesso (situação que ocorreu com Dragon Ball, Eyeshield 21 e muitos outros casos na revista), resultando muitas vezes numa brusca queda na qualidade da obra. Ambas as situações são evitadas na Magazine.
A Magazine tem também um esquema de rotação de séries muito interessante. A revista tem mais títulos em publicação do que cabe na antologia fisicamente, e por isso toda semana duas ou três séries tiram uma folga. Essa estratégia talvez tenha surgido para duas coisas: para ter mais títulos sendo lançados constantes, atraindo um público diferenciado; e encorajar os leitores a acompanhar mais séries, proporcionando material para eles lerem quando a sua série preferida estiver de folga.
Alguns mangás famosos da Antologia: Kyojin no Hoshi (1966-1967), Ashita no Joe (1968-1973), Devilman (1972-1973), Hajime no Ippo (1990-presente), Great Teacher Onizuka (1997-2002), Love Hina (1998-2001).
(Este post continua amanhã!)
Meu pitaco para a Jump ser o carro-chefe das antologias shonen vai bem na explicação sobre a Antologia ter sua alta rotatividade de séries.
Na época que os editores decidiram isso, certamente, foi um tiro no pé mas creio que eles não tinham nada a perder mesmo, então tentaram e agora estão colhendo seus frutos.
Querendo ou não, esse tipo de solução é o mais viável. Mesmo que para isso, séries que alguns leitores curtam tenham que rodar bem cedo. (Akaboshi… snif…)
E só pra lembrar (mesmo que não vá fazer diferença alguma, lol): Mangás de mistério também nunca vingaram muito bem na Jump, salvo algumas pouquíssimas excessões.
[…] parte 1 deste post, falamos sobre as duas principais antologias semanais shonen do Japão, a Shonen Jump, da editora […]
[…] objetivo aqui, seguindo os posts de shonens semanais (parte 1 e parte 2), é eleger os cinco melhores (e o pior) shonens em publicação semanal atualmente. Por […]